CADB - a nova geopolítica do poder

A Convenção da Asssembleia de Deus no Brasil (CADB), nasce para ser mais uma forte representação das ADs no país. Assim como o Ministério de Madureira, os líderes da mais nova convenção por anos enfrentaram acirradas disputas dentro da CGADB, gerando assim, uma grande e intensa polarização.

Quando o Ministério de Madureira foi suspenso da CGADB em 1989, abriu-se espaço para que um grupo de pastores pudesse controlar a instituição. À princípio, o próprio Samuel Câmara foi favorável e defensor da suspensão de Madureira. Câmara também exerceu diversos cargos na CGADB durante anos. 

Mas, contrariando expectativas de alternância no cargo de presidente da CGADB, o pastor José Wellington Bezerra da Costa, sempre apoiado pelos líderes mais influentes das ADs, conseguiu permanecer (e ainda permanece) no comando da instituição por três décadas. Evidentemente, que em seu projeto de poder, Wellington desagradou antigos e novos líderes.


Com o passar do tempo, convenções e ministérios começaram a romper com a Convenção Geral. Igrejas pioneiras como a AD em São Cristóvão (RJ) e Santos (SP), organizadas diretamente na década de 1920, pelos míticos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, deixaram os quadros da CGADB. 

Ainda na evolução dos fatos e das transformações eclesiásticas nas ADs, antigos aliados começaram a se opor ao projeto de José Wellington: entre eles é claro, o pastor Câmara. Ao mesmo tempo, Wellington estrategicamente apoiava os concorrentes dos seus mais fortes opositores. Alguns casos são bem conhecidos. 

Samuel Câmara assumiu a AD em Manaus e a Convenção do Amazonas com a morte do pastor Alcebiades Vasconcelos em 1988. Em 1997, entregou a presidência da igreja para o seu irmão Jônatas Câmara e assumiu à liderança da AD em Belém (PA). 

Jônatas começou então, uma ampla reformulação nos métodos de trabalho na AD em Manaus. Na época foi acusado de aderir aos modismos do G12, causando sérios debates nacionais. Ao mesmo tempo enfrentou uma cisão liderada por conceituados pastores do seu ministério. Em consequência disso, em 2000 foi fundada a AD Tradicional, a qual obteve seu reconhecimento da CGADB em 2011, com a boa vontade da própria AD dirigida por Jônatas. 

A AD Tradicional passou a ser por sua vez, o braço de apoio do pastor José Wellington no Amazonas. É claro que a AD pioneira em Manaus e sua Convenção Estadual é grandiosa, mas o crescimento da AD Tradicional não pode ser ignorado e muito menos o prestígio dado pela CGADB ao seu presidente atual, o pastor Gedeão Menezes. 

Samuel por sua vez, ao assumir a AD em Belém em 1997, tentou várias vezes ser o presidente da Convenção do Pará. Mas os principais líderes paraenses, sentiram-se preteridos pelo antigo pastor Firmino de Anunciação Gouveia, e não permitiram o intento de Câmara. 

Na medida em que Samuel lutava pela presidência da Convenção Geral, José Wellington aproximava-se cada vez mais do pastor Gilberto Marques de Souza, o concorrente direto de Câmara à liderança da Convenção da AD no Pará. Não conseguindo seus objetivos de liderar o ministério paraense como um todo, em 2006 Câmara funda a Convenção da Igreja-Mãe (CIMADB). 

Em Macapá, o pastor Oton de Alencar, mesmo sendo o líder da igreja pioneira desde 1994, não conseguia espaço na Convenção do seu Estado. Em 2009, Alencar fundou a União Fraternal das Assembleias de Deus no Amapá. Seu principal oponente e desafeto, o pastor Lucifrancis Barbosa Tavares também é aliado do presidente da CGADB. 

Assim, as principais igrejas das ADs no Norte do país e suas lideranças ficaram praticamente invisíveis ou esquecidas nas páginas do Mensageiro da Paz. Mas as atividades dos Ministérios aliados e dos seus pastores eram divulgadas amplamente pela CPAD. Inclusive recebiam os eventos patrocinados pela editora. 

Agora, com a CADB, os Câmaras e seus companheiros procuram resgatar o protagonismo das igrejas pioneiras do pentecostalismo no Brasil. Inaugura-se oficialmente, a mais nova geopolítica assembleiana. Ministérios e Convenções distantes da CGADB ou da CONAMAD, podem na CADB encontrar abrigo institucional.

Fontes:

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

ARAÚJO, Isael de. José Wellington - Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

DANIEL, Silas, História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Os principais líderes, debates e resoluções do órgão que moldou a face do movimento pentecostal brasileiro, Rio de janeiro: CPAD, 2004.

http://selesnafes.com/2015/10/lider-da-assembleia-de-deus-fala-sobre-rachas-na-igreja-casamento-gay-e-politica/

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