Ruptura na CGADB (2ª parte)
A primeira grande ruptura institucional na CGADB, aconteceu no fim dos anos 80, com a suspensão do Ministério de Madureira. O Brasil vivia a chamada "década perdida" do ponto de vista econômico, mas muitos avanços democráticos com o fim do Regime Militar (1964-1985). No mesmo período as ADs mergulharam na política partidária com candidatos próprios à Assembleia Nacional Constituinte.
Só para lembrar: o Ministério de Madureira, desde os anos 20, sob à liderança de Paulo Leivas Macalão avançava nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Na década de 1950, Madureira já se firmava como um ministério inter-regional e de grande visibilidade política.
Nessa época surgem as polêmicas sobre as "invasões de campo" ou do eufemismo "jurisdição eclesiástica". O crescimento e consolidação dos Ministérios assembleianos, e os projetos de expansão eclesiástica muitas vezes chocavam-se entre si. Madureira quase sempre estava no centro das controvérsias.
Com a morte de Macalão em 1982, Madureira viveu uma encruzilhada. Os líderes das ADs ligadas à Missão pressionavam para a desagregação do Ministério, ao mesmo tempo que os principais obreiros de Madureira tentavam solucionar o vácuo deixado pela morte do seu fundador.
Na CGADB de 1983, em Aribiri, Vila Velha (ES), a chapa de Madureira encabeçada pelo pastor Manoel Ferreira venceu a eleição. Era a afirmação da força do Ministério de Madureira, mesmo com o desaparecimento do seu mítico fundador. Mas Ferreira teve uma inusitada ajuda da Missão: seus principais líderes dividiram-se em outras três chapas concorrentes.
Em 1985, em Anápolis (GO), houve um acordo prévio. Num clima de muita tensão foi aclamada, para a ironia da história, a famosa chapa do "consenso". Segundo Manoel Ferreira: "ficou acordado também que a partir dali, em todas as Convenções, nós acharíamos um entendimento de representação. Madureira teria sua representação e eles teriam outra representação".
Segundo essa versão, na CGADB em Salvador (BA) em 1987, só deveria haver uma chapa para ser apresentada e aclamada em plenário. Não foi o que aconteceu. Manoel Ferreira narra, que ao chegar em Salvador, se deparou com uma chapa da Missão já montada, e sem nenhum representante de Madureira. "Nós fomos totalmente ignorados..." afirmou ele recordando os fatos.
Na realidade, entre 1985 à 1987, movimentações de bastidores ocorreram para que o acordo estabelecido em Anápolis não vingasse. Líderes do Norte e Nordeste estavam descontentes com a abertura de congregações de Madureira em suas regiões, algo que era visto na época como um verdadeiro sacrilégio.
A eleição de Alcebiades seria uma forma de deter esse expansionismo. Da eleição de Vasconcelos em 1987, até a suspensão de Madureira em 1989, as negociações foram tensas. Com a morte de Alcebiades em 1988, assume seu vice, o pastor José W. Bezerra da Costa. É justamente com ele que Madureira é desligada da Convenção Geral.
Agora, quase três décadas depois de todas essas controvérsias, o bispo Samuel Ferreira declara seu apoio ao atual presidente da CGADB, o pastor Wellington Júnior. Usa inclusive, a passagem bíblica sobre Abraão e Ló e a briga entre seus pastores, para justificar a nova cisão. Segundo o bispo "Deus livrou de Ló" o pastor Júnior, ou seja, os oponentes da atual diretoria da CGADB eram "incômodos".
A maior ironia de todas essas histórias de indas e vindas na CGADB, é que na reunião convencional realizada em Salvador (BA), em 1989 para decidir a suspensão de Madureira, esse foi o mesmo argumento utilizado por um dos líderes da Missão. José Wellington pai estava na presidência da CGADB, e Manoel Ferreira no lado oposto. Agora Júnior tem como aliado o filho do Bispo Primaz.
Samuel ressuscitou à sua maneira o discurso. Mas um dia, o Ministério que lidera foi Ló...
Fontes:
ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.
ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.
ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
ARAÚJO, Isael de. José Wellington - Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
CABRAL, Davi, Assembleia de Deus: A outra face da história. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Betel, 2002.
DANIEL, Silas, História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Os principais líderes, debates e resoluções do órgão que moldou a face do movimento pentecostal brasileiro, Rio de janeiro: CPAD, 2004.
FAJARDO, Maxwell Pinheiro, “Onde a luta se travar”: a expansão das Assembleias de Deus no Brasil urbano (1946-1980), (Tese de Doutorado em História) Assis-SP: UNESP, 2015.
FERREIRA, Samuel (org.) Ministério de Madureira em São Paulo fundação e expansão 1938-2011. Centenários de Glórias. cem anos fazendo história 1911-2011 s.n.t.
FIDALGO, Douglas Alves. “De Pai pra Filhos”: poder, prestígio e dominação da figura do Pastor-presidente nas relações de sucessão dentro da “Assembleia de Deus Ministério de Madureira”. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da UMESP.
FRESTON, Paul, Breve história do pentecostalismo brasileiro, In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
VASCONCELOS, Alcebíades Pereira; LIMA, Hadna-Asny Vasconcelos. Alcebíades Pereira Vasconcelos: estadista e embaixador da obra pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
Que ironia....no passado não tão distante, o Ló foi Manoel, agora, o Samuel...ironias à parte, quem sofre mesmo, é o rebanho nas mãos nada escrupulosas desses oligarcas.
ResponderExcluirParabéns, Mário Sérgio, excelente abordagem.
ResponderExcluirParabens!!! Relato fiel aos fatos.
ResponderExcluirExcelente Mário Sérgio! Muito bom mesmo! Parabéns pelo artigo. Fui da Madureira e da Missão, e nunca a história é bem contada...Acho que, de certa forma,Madureira foi injustiçado no passado...mas o tempo passa e as coisas mudam....
ResponderExcluirCom certeza ainda muitas águas irão passar por baixo dessa ponte. A briga pelo poder, traições, ganância, infelizmente é o motivo de toda essa confusão.
ResponderExcluirO foco estando em Cristo, não seremos contagiados pelas motivações que movem tais lideranças e que não expressam fielmente o caráter de Cristo. Que um espírito de quebrantamento e arrependimento recaia sobre todos nós, principalmente na nata da liderança.
ResponderExcluirPrecisamos entender que Convenção não é a igreja, Convenção é um orgão onde alguns pastores estão filiados, conheço pastores assembleianos que não são filiados a nenhuma convenção!!! As Assembleias de Seus está acima destas disputas por poder e $$$!!! O negócio é deixem eles correrem atras o do poder, fama e $$$ e nó continuaremos a correr a carreira que nos está proposta buscando a salvação e isto é o mais importante!!! Um abraço a todos
ResponderExcluirE ainda há quem bata palmas para esses corvos.
ResponderExcluirBom dia Mário, está sabendo disso aqui:
ResponderExcluirhttp://www.portalr10.com/noticia/1957/ruptura-na-cgadb-2-parte
Não vi nenhum linka direcionando pra cá, tampouco alguma menção ao seu nome.
Veja como ficou o site da nova convenção CADB: http://portalcadb.com/inicio/, uma maravilha.
ResponderExcluirAtt: Chenval
Anonimo?
ResponderExcluirNa verdade as Assembleias de Deus deveriam se unir cadb nao existe, o que existe é cgadb e conamad essas deveriam se unir...