As Assembleias de Deus - títulos e honrarias

"O brasileiro é vaidoso e guloso de títulos ocos e honrarias chocas. O seu ideal é ter distinções de anéis, de veneras, de condecorações, andar cheio de dourados." (Lima Barreto)

Para muitos assembleianos causa surpresa a proliferação de títulos considerados "exóticos" dados aos principais líderes da denominação. Ainda soa estranho, por exemplo, certas igrejas terem como seu líder máximo um "Apóstolo" ou "Bispo".

Vale lembrar, que no Mensageiro da Paz na década de 1930, quando se anunciava estudos bíblicos, obreiros como Samuel Nyströn, Gunnar Vingren entre outros, eram chamados simplesmente denominados de "irmãos". E ser pastor naquela época, era muitas vezes viver sem salário, sem honrarias e com muita perseguição.

Mas em 1938, segundo Silas Daniel no livro História da CGADB, "entrou em pauta o ministério de apóstolo". Concordaram os obreiros com a existência do ministério apostólico, mas rejeitaram a "consagração de apóstolos". O reconhecimento da honraria deveria ser feita pela igreja e "não dependia de um título".

Daniel esclarece: "as Assembleias de Deus nunca consagraram apóstolos, por entenderem que tal consagração não tem apoio bíblico, porém sempre tiveram o costume de denominar alguns dos grandes nomes da história da Igreja, inclusive no Brasil, como apóstolos." Entretanto, o reconhecimento só viria depois da morte do pioneiro.

Bispos de Madureira: etiqueta de mando?

Porém, Paulo Leivas Macalão ainda em vida, foi chamado de "Apóstolo do século XX"; Túlio Barros da AD em São Cristóvão (RJ), em 2004, foi consagrado "Apóstolo" e o seu filho Jessé Maurício "Bispo". Nesse tempo, São Cristóvão já estava fora da CGADB.

Em 1959, Antônio de Souza Campos, em um artigo publicado na revista A Seara, questionou o uso que alguns pastores faziam da titulação de reverendo. Para ele, tal título, além de ser impróprio, seria a aberração "de um cristianismo órfão, pobre de espiritualidade o qual para impressionar precisa lançar mão de títulos pomposos". 

Nem mesmo a nomenclatura, pastor geral, pastor-presidente ou pastor regional foram aceitas sem contestações na década de 1950. O pastor José Menezes, no Mensageiro da Paz chamou essa prática de "anti-bíblica" e "maligna", sendo uma "etiqueta de mando" para legitimar abusos autoritários. 

Para Menezes, o objetivo dos "pastores regionais" era "empunhar o cetro da distinção" e "exercer o império do mando." Isso seria ainda um "beco de inovações, criação de leis e estatutos imprecisos, proteção a favoritos, trazer a outros com aves de arribação."

Com a evolução dos Ministérios, as ambições de reconhecimento social também cresceram. Gedeon Alencar observa em seu livro Matriz Pentecostal Brasileira, o uso das titulações acadêmicas nos periódicos da CPAD como forma de legitimação dentro da igreja. A titulação de pastor já não seria suficiente para dar peso as publicações? 

Muitas são as justificativas para o uso das nomenclaturas. Para muitos, o que parece mesmo é que as lideranças foram picadas pela famosa "mosca azul". Lima Barreto morreu no início do século XX, mas impressiona sua atualidade em descrever as futilidades do mundo político e eclesiástico.

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

Mensageiro da Paz, 1ª quinzena de abril de 1969. Rio de Janeiro: CPAD.

A Seara, ano VI - nº 1, ano de 1959.

Comentários

  1. No tempo que a Assembleia era de Deus não haviam títulos, nem feudos. Esta última configuração pior que a primeira. O mais incrível é que ao longo dos anos a prática foi se aprofundando. Se nada for feito teremos muito mais problemas.

    Parabéns por mais este artigo que evidencia o quanto estamos longe do ideal bíblico.

    ResponderExcluir
  2. Muito bom seu comentário. Sou a terceira geração de pastores da AD e convivi com Paulo Macalão, Alcebíades Vasconecelos (pregando nas igrejas deles) e nunca os vi sendo tratados pelo título, mas, irmão Macalão, irmão Alcebíades etc.

    ResponderExcluir
  3. Da maneira como a AD ficou institucionalizada com o decorrer dos anos, não somente cresceu a vaidade denominacional em si como igualmente a vaidade dos títulos eclesiásticos que são a geratriz para que os líderes amantes de suas posições e de seus títulos pomposos se tornem como que monarcas absolutistas, reinando, mandando e desmandando a seu bel-prazer os seus impérios eclesiásticos. Mas o Dia do Senhor, o tempo da prestação de contas, não tarda - 2Ts 1.7-10.

    ResponderExcluir
  4. Excelente texto, esses são os feudais, os coronéis, eu sou assembleante e sinceramente, sou contra esses títulos humanistas, pior ainda é nos púlpitos onde o pastor presidente tem a sua cadeira diferenciada dos demais obreiros, e os obreiros tem suas cadeiras diferenciadas dos demais membros... lamentável.

    ResponderExcluir
  5. Realmente o ego não permite mais ser destacado com um irmão título que tinha a priori o apóstolo Paulo, hoje alguns querem e se alto denominam até patriarca.

    ResponderExcluir
  6. Hoje vivemos a era dos títulos e pouca eficácia nos trabalhos para a expansão do reino.
    Sede de poder e honra, porém, escassez de vidas consagradas a Deus, ou não?
    Ótimo artigo.

    ResponderExcluir
  7. Sou Assembleiano e querendo o não tenho um conceito estabelecido em mim que de honra a quem á tem o sujeito pode se denominar oque quiser mas o único reconhecimento máximo da minha parte e o de Presbítero ou pastor qual ambos ten a mesma atribuição eclesiástica

    ResponderExcluir
  8. Concordo,poder e honra,
    (Era dos Títulos Eclesiásticos,vaidade denominacional,
    "Placa de Igreja"impérios eclesiásticos,"religiosidade),
    escassez de vidas consagradas a Deus.Texto Esclarecedor,é preciso refletir!repensar para onde está caminhando a humanidade!
    E o povo de Deus?

    ResponderExcluir
  9. Quanto ganha um pa$tor de$$e$ do de gênero "apóstolo"... só gostaria de saber o desses pastores, pois o salário dos tais PRESIDENTES DE CAMPO assembleianos eu já sei... e tenho vergonha de dizer para não frustrar os pobres dessa tradicional instituição religiosa (sem fins lucrativos). irmão Flavio

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A maioria dos "pobres" da AD, se ficarem sabendo, vão é dar glórias a Deus e sair em defesa, desses pseudos pastores, nas redes sociais dizendo coisas do tipo não julgueis, dai honra a quem tem honra, etc. E mais, vão votar nos candidatos apoiados por esses pastores, vão ficar achando "uma benção" quando esses líderes se aproximarem dos "Cunhas" da atualidade e vão encarar com maior normalidade o nepotismo eclesiástico. Mas digo uma coisa: tem uma minoria, que vem aí, disposta a incomodar essa gente que está fazendo tão mal à Assembleia de Deus. Pode ter certeza disso!

      Excluir
  10. שלום ! Foi época que Jesus era o Deus das igrejas... Infelizmente os " semideuses" assumiram um posto que não lhes pertence. Mas como a bíblia diz:" muitos se apostatar iam"... Mas ainda tem crente na terra !!

    שלום עלינו בשם ישוע המשיח

    ResponderExcluir
  11. Entendo ser desnecessário, pois lembra muito os faraós que se intitulavam semi deuses, a ponto de Deus para libertar o povo do Egito o colocou em seu devido lugar. A pergunta é o que isso engrandece o reino quantas vidas serão salvas por conta de tanta honraria.

    ResponderExcluir
  12. Só sei que esses caras não tem nada de crentes, coitadoa da igreja de jesus.

    ResponderExcluir
  13. O modelo de governo congregacional, semelhante às congregações batistas e Assembleia de Deus dos Estados Unidos (AG), se aplicado na realidade brasileira acabaria com muitos problemas relacionados com centralização de poder.

    ResponderExcluir
  14. Segundo os antigos Paulo Leivas Macalão nunca permitiu o chamarem por tal título, pois certa vez ao chegar em Bangu onde colocaram faixas para o homenagear com tal honraria mandou rasgar todas as faixas, se submetendo a simplicidade, diferentemente destes vaidosos ecumênicos que tomaram a liderança da igreja através de golpe e introduziram suas vaidades e ganância humana.

    ResponderExcluir
  15. Segundo os mais antigos Paulo Leivas Macalão nunca permitiu que fosse chamado por esta titulação, certa vez em Bangu colocaram faixas com estes dizeres e ele mandou tirar todas, diferentemente destes vaidosos que tomaram a liderança da igreja através de golpe judicial e estabeleceram seu domínio ecumênico com suas vaidades e ganâncias pessoais.

    ResponderExcluir
  16. Tanta horaria pra que isso!!!
    Estamos em dia difíceis! Esses homens nessa situação! !!

    ResponderExcluir
  17. Lideres vaidosos, presunçosos e arrogantes, assim como um politico corrupto eles são lobos disfarçados de cordeiros atuando em causa própria, distorcendo o entendimento da Sagrada escritura, criando para muitos um caminho entre o largo e o estreito, caminho que não existe.

    ResponderExcluir
  18. Ai deles! porque foram pelo caminho de Caim, e por amor do lucro se atiraram ao erro de Balaão, e pereceram na rebelião de Coré. Estes são os escolhidos em vossos ágapes, quando se banqueteiam convosco, pastores que se apascentam a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos; são árvores sem folhas nem fruto, duas vezes mortas, desarraigadas; ondas furiosas do mar, espumando as suas próprias torpezas, estrelas errantes, para as quais tem sido reservado para sempre o negrume das trevas.
    Judas:1:11-13

    ResponderExcluir
  19. Não há como caminhar fora da base bíblica, ainda que um pouquinho, e estar seguro nesta vereda. Ou vc segue o modelo bíblico em sua totalidade, ou anda pelos caminhos que o homem tem pavimentado ao longo dos anos deste cristianismo desviado da verdade. Infelizmente, é o que está acontecendo, cumprindo-se assim a Palavra de Deus: "um abismo chama outro abismo..." O simples título "pastor" já é em si anti-bíblico. Não existe na bíblia, um único caso de alguém com este título. Pastor é um dom dado por Deus (Ef 4.7-12), aos presbíteros, para pastorear, apascentar o rebanho de Deus, a Igreja At 20.17,28; 1Pe 5.1-2. Portanto, os presbíteros eram pessoas designadas, apontadas, estabelecidas com a finalidade de exercerem a função de pastorear, jamais terem o título, a posição ou profissão de pastor, fazendo deles uma classe especial, superior dominando sobre os demais irmãos. O mandamento do Senhor Jesus a esse respeito é muito claro, sem margem a qualquer título: "vós todos sois irmãos" Mt 23.8-11. Quando Moisés erigiu o tabernáculo, Deus o advertiu seriamente: "vê, pois, que tudo faças segundo o modelo que te foi mostrado no monte"Ex 25.40. Sendo o tabernáculo uma figura ou tipo da Igreja, o princípio espiritual permanece: "tudo faças segundo o modelo". O Modelo de Igreja com todas as suas práticas foi dado aos apóstolos do Senhor Jesus, quando a Igreja foi edificada, e pode ser encontrado a partir do livro de Atos. Não se enganem, cada um será julgado por tudo o que praticar fora do modelo bíblico, em relação à Igreja. Tanto o artigo pelo nobre irmão, como os comentários foram como um "cavar e descobrir a terra". Creio que os irmãos podem ir muito mais profundo a ponto de todos serem expostos. Humanamente falando, podemos melhorar o sistema religioso. Deus não está interessado nisso. Ele deseja que o Seu povo volte à Sua Palavra e "faça tudo segundo o modelo que foi mostrado no monte". Amém.

    ResponderExcluir
  20. Apóstolo Paulo aos Filipenses, capítulo 3.7-8
    "Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por amor de Cristo. Sim, de fato também considero todas as coisas como perda, comparadas com a superioridade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, pelo qual perdi todas essas coisas. Eu as considero como esterco, para que possa ganhar Cristo".

    O termo usado como "esterco" e "perda" deixam bem claro como devemos considerar esse tipo de atitude e valores dados por esses LOBOS denominacionais. Crápulas!

    ResponderExcluir
  21. Apóstolo Paulo aos Filipenses, capítulo 3.2 e 7-8...
    "Tomai cuidado com esses cães; cuidado com os maus obreiros"...
    E sobre posições e destaques fúteis...
    "Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por amor de Cristo. Sim, de fato também considero todas as coisas como perda, comparadas com a superioridade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, pelo qual perdi todas essas coisas. Eu as considero como esterco, para que possa ganhar Cristo".
    O termo usado como "esterco" (lit. m.) deixa bem claro como devemos considerar essas atitudes e valores dados por esses LOBOS denominacionais. Crápulas!

    ResponderExcluir
  22. Os Jeremias se Levantarão na Terra dos Viventes e Deus será Glorificado...Os Vasos grandes serão quebrados e os vasos pequenos se unirão e se fortalecerão...Ai chegará o verdadeiro reavivamento na obra do SENHOR...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O caso Jimmy Swaggart - 30 anos depois

Iconografia: quadro os dois caminhos

Assembleia de Deus e a divisão em Pernambuco (continuação)