AD em Cordovil (RJ) - controvérsias e divisão em sua autonomia

No ano de 1959, o pastor Alcebiades Pereira Vasconcelos em sua administração a frente da AD do campo de São Cristóvão, emancipou suas principais filiais no Rio de Janeiro. Receberam autonomia as congregações do Leblon, Lapa, Rio Comprido, Vila Isabel, Tijuca, Todos os Santos, Bonsucesso, Caetés, Olaria, Ilha do Governador, Penha e Cordovil.

"Tudo decorreu num ambiente da maior cordialidade, espiritualidade e compreensão" – informou o pastor Antônio Gilberto ao Mensageiro da Paz. Vasconcelos, porém, narra em sua biografia as razões concretas das emancipações: a instabilidade reinante entre o ministério da AD em São Cristóvão. Os dirigentes das congregações não prestavam contas e as cisões seriam inevitáveis. Para contornar a situação, organizou-se autonomias controladas no Rio.

Contudo, mais um fato iria contradizer às palavras de Gilberto. Durante o processo de emancipações, o líder da AD carioca não conseguiu conter uma grande divisão. No site da igreja em Cordovil há informações, que o então dirigente da congregação, presbítero Alexandre Ferreira "desejoso de ser independente" pediu sua autonomia. Mas a igreja sede não considerou "viável e entendendo que o momento não era oportuno, negou a pretensão" do obreiro.

Manifesto publicado no Diário de Notícias (RJ)

Negado o pedido veio o rompimento com São Cristóvão. Ferreira abriu outra congregação levando oitenta por cento dos membros consigo e fundou a AD Parada de Lucas. Só permaneceram ligados à matriz a maioria dos crentes dos pontos de pregação de Cordovil.

Outra fonte para se entender melhor o caso, é o manisfesto da congregação de Cordovil publicado no Diário de Notícias (RJ), no dia 24 de fevereiro de 1959. No documento, consta que o desejo de emancipação dirigido à sede foi feito no dia 25 de janeiro. Em reposta ao pedido de autonomia, Alcebiades aconselhou os membros a esperar "por mais algum tempo", pois seriam atendidos. Mas havia uma exigência dos crentes: a permanência de Ferreira na liderança da igreja.

Segundo o manifesto, o então pastor da AD em São Cristóvão prometeu no púlpito, perante toda a congregação a permanência do antigo dirigente. Mas Vasconcelos descumpriu a promessa e enviou outro obreiro para assumir à igreja. Com a visível discordância dos membros em aceitar à imposição do novo líder, houve ameaças de fechamento da igreja.

Pressionados, os membros apelam publicamente pelo jornal, apoio e intervenção de outras congregações para que a autonomia fosse concedida e que o presbítero Alexandre permanecesse na liderança. Afirmam ainda, não se tratar de um movimento rebelde ou indisciplinar, mas de "uma justa aspiração".

A publicação no Diário da Noite é bem anterior a Assembleia Geral Extraordinária em São Cristóvão realizada em 05 de maio de 1959, onde se decidiu pelas emancipações. Percebendo que a solicitação não seria atendida, obreiros e muitos crentes oficializaram a cisão nesse meio tempo.

Pode-se refletir sobre as causas das divergências. Alcebiades conta, que alguns presbíteros agiam com total independência. Pode ter sido o caso de Alexandre Ferreira. As autonomias seriam controladas e talvez o pastor-presidente sentisse que estava perdendo o controle da próspera congregação. Pode ter ocorrido mais algum fato que está submerso nas narrativas, o que não é incomum nas histórias assembleianas. Somente os crentes mais antigos sabem de todos os detalhes.

O certo, é que o clima de instabilidade era enorme nas ADs cariocas ligadas à Missão. Paralelamente, Macalão amarrava suas congregações com o famoso estatuto padrão. São Cristóvão com uma política de fragmentação, Madureira seguindo caminho contrário. Diferenças marcantes e estratégicas nos dois ramos assembleianos.

Fontes:

VASCONCELOS, Alcebíades Pereira; LIMA, Hadna-Asny Vasconcelos. Alcebíades Pereira Vasconcelos: estadista e embaixador da obra pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

Mensageiro da Paz, 1ª quinzena de novembro de 1959.

http://www.admc.com.br/2014/nossa_historia.html

http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ - Diário de Notícias, 24 de fevereiro de 1959, p.8.

Comentários

  1. EU AQUI ESCANDALIZADO COM OS ACONTECIMENTOS,NA IGREJA ASSEMBLÉIA DE DEUS EM GOVERNADOR VALADARES PRESIDIDA PELO PASTOR SALATIEL FIDELIS. PELO VISTO, ESSA BRIGA PELO PODER É VELHA,ALIÁS,TÃO VELHA,QUANTO ANDAR PRA FRENTE COMO DIZ MEU PAI.

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  2. É, amigo, a história é uma velha matreira.

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  3. Eu tenho para mim que o elevado número de ministérios obscurece a fraternidade. Morei alguns anos em São Bernardo do Campo. Na curta rua em que eu residia, havia dois tempos da AD.

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