Ministério do Belém – candidatos a sucessão

A década de 1970, seria decisiva para a Assembleia de Deus - Ministério do Belém (SP). Em 1973, o "timoneiro" Cícero Canuto de Lima faria 80 anos de idade e um clima de expectativa se formava em torno da sucessão.

José Wellington comenta em sua biografia, que o pastor Joaquim Marcelino da Silva, na época influente líder das ADs em São Paulo, manifestou preocupações com à sucessão ao próprio Cícero. Mas o veterano desconversava, não alimentava polêmicas e negava-se a apontar diretamente um herdeiro ministerial.

Comenta-se, que um dos grandes favoritos para suceder o pioneiro seria o pastor Eliseu Feitosa de Alencar. Amazonense de Lábrea, Alencar destacou-se na década de 1960 na evangelização dos povos indígenas em Roraima. Em 1964, divulgou esse trabalho na CGADB em Curitiba (PR) e "ganhou a simpatia, confiança e apoio do pastor Cícero de Lima" – segundo o próprio José Wellington.


Cícero e alguns candidatos à sucessão (JW sentado à direita)



Em 1965, convidado por Cícero, Alencar transferiu-se para o Belém. Nesse tempo, um grupo de pastores do ministério desconfiados das histórias de evangelização dos indígenas, prepararam um dossiê denunciando uma suposta farsa. Demonstrando apreço ao obreiro, Cícero de Lima não aceitou as acusações, causando grave crise no ministério.

Mas não seria o objetivo do dossiê, mais do que o desejo de transparência, a obstrução do nome de Eliseu à sucessão ministerial? Contudo, o plano não deu certo. Todos os pastores envolvidos na preparação do documento foram transferidos para o interior. José Wellington, que época não era obreiro sustentado pela igreja, não foi transferido, mas ficou sem atividades durante um ano no ministério.

Pressões e hostilidades foram contantes contra Eliseu de Alencar. Havia, conforme os mais antigos membros, uma bem articulada rede de difamações contra ele. Talvez, por ser sentir sem espaço em São Paulo, ele aceita voltar a Campo Grande (MS) em 1970, deixando o caminho livre para outros pretendentes ao cargo de Cícero. Em 1972, rompeu com o Belém. Fato que causou um profundo desgosto e decepção no antigo protetor.

O ministério tinha mais alguns candidatos. Pastores mais antigos como Odilon Issa Karam, Manoel Bezerra e Antonieto Grangeiro Sobrinho, poderiam estar no páreo. Grangeiro, inclusive, havia exercido a presidência da Junta Executiva da CGADB na década de 1960. Contudo, os "cardeais" do Belém apoiaram José Wellington na hora decisiva.

Também eram potenciais candidatos os dois últimos vices de Cícero: João Alves Corrêa e João Pereira de Andrade Silva. Corrêa estava em Santos desde 1962, mas distante da capital foi atropelado pelos acontecimentos. João Pereira em 1973, convencido por seus pares, ou por problemas internos, trocou a vice-presidência do Belém pela direção da CPAD no Rio de Janeiro. Era um a menos na disputa...

Com tudo isso, abriu-se o caminho para o então secretário da igreja, o pastor José Wellington Bezerra da Costa. Alçado em 1973, a condição de vice-presidente, Wellington sabia muito bem que o poder se conquista. Experiente e bem sucedido comerciante, o cearense precisaria de muita paciência, ousadia e jogo de cintura para chegar ao topo.

Por fim, muitos estavam de olho nos derradeiros anos do "timoneiro". Queriam herdar o leme da grande embarcação chamada Ministério do Belém. Os próximos lances da sucessão seriam decisivos. Sairia do controle até do próprio Cícero.

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael. José Wellington – Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. 

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CORREA, Marina Aparecida Oliveira dos Santos. Assembleia de Deus: Ministérios, carisma e exercício de poder. São Paulo: Fonte Editorial, 2013.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil - Curitiba: Editora Prisma, 2017.

FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.

Comentários

  1. A História vai muito além disso, Hoje tenho o privilégio de fazer parte da Assessoria da Igreja AD Paulistana (Igreja que o Pr Dr. Eliseu fundou em São Paulo) aqui, temos diversos Obreiros ainda vivos que sofreram com toda esta represerária realizada por alguns Pastores do Belèm. Houve sequestros e até mesmo difamações gravíssimas, Hoje sou responsável por toda parte histórica da Igreja e garanto esta foto demonstra nem 1/5 o que nosso Pr Fundador passou! Hoje descansa no Senhor e quem trilha o novo caminho é seu filho Pr.Dr.Eri Alencar que guarda histórias referente a esse período conturbado.

    Pr.Dr Eliseu Alencar (O Trovão Brasileiro)
    Eleito na Conferência Mundial das Assembleias de Deus (na Europa)

    Se tivesse chegado a Presidência do Belém, teria revolucionado o Brasil!

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  2. Meu irmão, entre em contato comigo por favor. Preciso de mais informações sobre o caso. Obrigado!

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  3. Muito bom Mário. Texto muito rico em informações. Parabéns.
    Vou recomendar esse blogue no meu canal.

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  4. PARABÉNS POR CONTAR "O OUTRO LADO DA HISTÓRIA", ESCONDIDO à SETE CHAVES!

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