CGADB - todos contra todos

Superado os problemas da primeira CGADB, a liderança assembleiana foi tentando acomodar suas divergências. Os pastores brasileiros, gradativamente, foram conquistando seu espaço nas principais igrejas. Os suecos ainda mantiveram sua influência teológica, mas a tão almejada harmonia seria um sonho dentro das ADs.

Primeiro, porque transposto os problemas iniciais, outras questões surgiram ou se avolumaram. A cooperação dos missionários norte-americanos e seus projetos de utilização de novas mídias e a criação de institutos bíblicos, tornaram-se mais um ingrediente nas polêmicas convencionais.

Mas é muito evidente, até na história oficial, que a expansão dos ministérios, principalmente o de Madureira, foi um dos principais fatores de constantes intrigas entre os obreiros. Silas Daniel no livro História da CGADB, nomeia esse tempo crítico de "período de intensos debates".


CGADB em Santo André (SP) - 1975

Porém, justiça se faça: não foi só por causa de Madureira que os atritos se deram. Outras ADs também colaboraram paras as frequentes turbulências eclesiásticas. No Ceará, o irmão do atual presidente da CGADB foi um dos principais protagonistas de uma verdadeira batalha pela liderança da igreja, somente resolvida com muitas e intensas negociações.

Na década de 1960, com a construção de Brasília, os conflitos foram constantes entre os vários ministérios e líderes. A nova Capital Federal, em seus poucos anos de existência conseguiu sintetizar o clima reinante na denominação. Juscelino não planejou, mas a "Capital da Esperança", foi verdadeiramente cinquenta anos em cinco para as ADs no Brasil.

Na década de 1970, as tensões continuaram e se fizeram mais explícitas nas convenções. Nesse tempo, a CPAD tornou-se alvo de profundas disputas. A gestão da editora foi colocada sob suspeita e comissões foram criadas para investigar problemas. A empresa, planejada para dar unidade doutrinária e denominacional, por triste ironia, viria a ser o "pomo da discórdia" assembleiana.

Ainda nos anos 70, o veterano e respeitado Cícero Canuto de Lima se desgastaria muito no fim do seu ministério. Talvez, sem perceber, suas posições inflexíveis e de confronto com as determinações da CGADB, acabariam por trazer prejuízos à imagem do Ministério do Belenzinho.

Chegada à década de 80, as situações e confrontos gestados nos anos anteriores chegou ao seu limite. O antagonismo entre Missão e Madureira levou à suspensão do ministério fundado por Paulo Leivas Macalão da CGADB, instituição que ele ajudou a criar e da qual foi presidente em 1937.

Em seguida, a "Era Wellington" (classificação dada pelo historiador Maxwell Fajardo) seria um tempo de profundas transformações políticas, econômicas e tecnológicas no Brasil e no mundo. O advento da internet e das redes sociais transformaram as relações sociais. As informações deixam de ser monopólio de alguns grupos midiáticos. Segredos de bastidores correm o mundo.

Soma-se a isso tudo, as transformações no perfil das novas gerações de obreiros. Os novos pastores possuem estilo empresarial, usam extremamente o marketing e não tem pudores de se envolverem na política partidária. O poder para essa geração é um fim em si mesmo. Não fundam mais igrejas ou ministérios, erguem impérios eclesiásticos. É a fase que o sociólogo Gedeon Alencar denomina de "todos contra todos".

Se a CGADB já nasceu sob o signo da cisão, o atual ethos ministerial ajudou a potencializar as tensões. Vive-se nas ADs hoje, para usar alguns termos da história secular, uma "corrida imperialista", um clima de "Grande Guerra". A disputa pela presidência da CGADB virou uma luta aberta com acesso explícito aos lances da batalha. O Mensageiro da Paz, deixou de ser a única fonte de informação dos crentes sobre à convenção nacional. Não se consegue mais dissimular ou amenizar os graves conflitos desenvolvidos por essa geração.

O futuro é incerto e para muitos desalentador. Uma pena, pois o povo assiste perplexo à destruição da credibilidade da instituição que representa a maioria dos assembleianos.

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CORREA, Marina Aparecida Oliveira dos Santos. Assembleia de Deus: Ministérios, carisma e exercício de poder. São Paulo: Fonte Editorial, 2013.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: a expansão das Assembleias de Deus no Brasil urbano (1946-1980) - Assis, 2015.

FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.

Comentários

  1. Pelo que li no inicio dessa matéria, esse negocio de briga pelo poder é de familia.Se o irmão do atual presidente da cgadb foi um dos protagonista de uma batalha algum tempo atrás, então ñ é de admirar se o pastor JOSÉ WELLINGTON é protagonista dessa confusão no presente seculo.Pois ele como presidente,deveria tomar as redeas(se assim posso dizer) e ter trago esse pleito mais claros e transparente.Mas preferiu atrair o pastor SAMUEL naquele "famoso" acordo que foi notícias nos blog evangelicos, e dps,me parece pulou fora , deixando a revelia. Pra mim,depois do dia 09/04/2017 as ASSEMBLEIAS DE DEUS NO BRASIL Ñ SERA A MSM.AINDA MAIS SE O PASTOR SAMUEL CAMARÃ levar.Espero que DEUS,orienta a cada pastor atraves do seu SANTO ESPÍRITO qual é a vontade dele.

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