Assembleia de Deus Madureira - "De pai pra filhos"

Quando o jovem Paulo Leivas Macalão, iniciou seu ministério nos subúrbios da cidade do Rio de Janeiro em 1929, talvez não imaginasse, que dentro de alguns anos, os frutos do seu ministério se estenderia por várias regiões do Brasil formando o conhecido Ministério de Madureira.

Em 1982, com a morte de Macalão e do seu provável sucessor, o pastor Alípio da Silva, o ministério ficou acéfalo. A década de 1980, portanto, foi de tensões internas e externas para Madureira, onde à sucessão seria incerta entre seus mais destacados líderes. Mas com o passar do tempo, um nome se consolidou na liderança: Manoel Ferreira.

Focando nesse período de transformações do Ministério de Madureira, é que o sociólogo Douglas Fidalgo defendeu recentemente a dissertação de mestrado “De Pai pra Filhos”: poder, prestígio e dominação da figura do Pastor-presidente nas relações de sucessão dentro da “Assembleia de Deus Ministério de Madureira”.


Douglas Fidalgo: "De pai pra flhos"

Para Fidalgo, o fato das ADs no Brasil ser a única igreja pentecostal que conseguiu ao longo de seus mais de cem anos manter-se crescendo (IBGE-Censo 2010), levou-o as seguintes indagações: por que uma denominação tão expressiva no cenário religioso nacional se organiza em torno de uma figura que acumula, em si mesma, um prestígio considerável ao ponto de se tornar quase que inquestionável dentro da instituição e, ao mesmo tempo, aceita e legitima um modelo sucessório dinástico em pleno contexto de necessária modernização das instituições religiosas em geral?

Tendo essa problemática, a pesquisa buscou analisar as relações do tipo de poder tradicional-patrimonialista e seus desdobramentos principalmente na legitimação do poder da figura do Pastor-presidente e no atual fenômeno de perpetuação/e sucessão dinástica dentro do espaço pentecostal das ADs, em foco o Ministério de Madureira.

A relevância do tema está no fato de que, o estudo relacionado ao tipo de dominação do patrimonialismo no pentecostalismo brasileiro é pouco usual entre as pesquisas acadêmicas. E muitos autores acabam relacionando figuras como a do Pastor-presidente, por exemplo, a uma mera herança do colonialismo brasileiro.

Dessa forma, ao “desmistificar” esse entendimento simplista, percebe-se a existência de uma complexa rede de relações entre os dominadores, o seu quadro de especialistas e os dominados. Sendo muitas vezes essa forma de relação tensa e conflituosa na disputa constante pela manutenção do poder e das benesses por ela produzido.

Assim, a pesquisa buscou analisar as relações de poder, prestigio e dominação que ajudam a explicar a importância adquirida pela figura do Pastor-presidente, junto a lógica recente de perpetuação familiar no comando das Igrejas ADs Ministério Madureira.

Fidalgo ainda destaca as peculiaridades do ministério construído por Macalão, e de forma sucinta traça o perfil do clã dominante e as resistências à dominação por eles imposta. Não é por acaso, que nessa trajetória, algumas igrejas tenham se desvinculado de Madureira, pois todo o processo não se deu sem tensões e disputas.

Presbítero na AD Ministério do Ipiranga em São Paulo, Douglas sempre se interessou pelas questões de poder eclesiástico nas ADs. Frequentou Madureira por mais de 20 anos e soube aproveitar seus contatos com pastores e dissidentes do ministério para entrevistas e coletas de dados. Sua dissertação é uma obra robusta teoricamente e de muitas e inéditas informações sobre Madureira e o clã que a domina.

Comentários

  1. Seria interessante a disponibilização da referida Tese para consultas, ainda que sob ônus, dada a relevância do tema.

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  2. O nepotismo eclesiástico nas Assembléias de Deus no Brasil é uma coisa vergonhosa. O pior é que esta prática não se restringe ao Ministério de Madureira. Em vários modelos ministérios da Assembléia de Deus, é comum a liderança da Igreja passar de pai para filho. No Ministério do Belém, onde eu congrego e sou obreiro há alguns anos, a Igreja é dominada por uma família há muitos anos e está arraigada de tal forma que dificilmente sairá. Vejamos:
    1) O Pr José Wellington é o presidente do Ministério do Belém desde 1980, é presidente da Confradesp ( Convenção estadual ) desde sempre é é presidente da CGADB desde 1987;
    2) A sua esposa, Wanda Freire é coordenadora geral do Círculo de oração e líder do grupo de esposas de ministros do Ministério do Belém;
    3) O seu filho, Pr Joel Freire, é missionário e presidente do Ministério do Belém nos EUA;
    4) O outro filho, Pr Paulo Freire, é Presidente do campo de Campinas e deputado federal;
    5) Outro filho, Pr Samuel Freire é pastor, não sei se lidera algum departamento;
    6) Pr José Wellington Costa Neto é pregador e está sempre em evidência nos trabalhos de jovens;
    7) A filha, Marta Costa, é líder geral do departamento infantil D Igreja, foi vereadora por três mandatos na capital e atualmente é deputada estadual;
    8) A outra filha, Ruth Costa, foi eleita vereadora na última eleição;
    9) Outro filho, Pr. José Wellington Costa Júnior, é vice-presidrnte do Ministério do Belém, pastor do setor de Guarulhos - SP, Presidente do Conselho Administrativo da CPAD, Vice-presidente do Ministério do Belém e candidato a presidente da CGADB;
    11) Pr Anisio Batista Dantas, sogro do Pr Wellington Júnior, é o diretor da FAESP (Escola Teológica do nosso Ministério).
    Há também muitos campos no interior do estado, onde os respectivos presidentes adotaram a mesma prática e consagraram os filhos a pastores e os colocaram como seu vice. E assim, a Igreja se torna capitanias heteditarias. Aqueles que ousarem ir contra alguma prática de alguém dessas famílias, comete 'suicídio ministerial'.

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    1. Verdade varão!! Infelizmente é exatamente assim que vem acontecendo!!!Triste!!

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  3. A AD é arminiana na doutrina e calvinista no governo. Quem está predestinado jamais perde o reino, exceto por muito pecado.

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