Pastor Carneiro - o ministério das controvérsias

Antônio Alves Carneiro obteve autonomia junto à Madureira. Com grande contrariedade, Paulo Macalão, não conseguiu à exclusão do pastor de Anápolis na CGADB de 1962. O Ministério carioca teve que recomeçar o trabalho na cidade com um remanescente fiel.

Em 1969, o Mensageiro da Paz publicou uma elogiosa matéria sobre a AD anapolina. Seu líder é apresentado no periódico como um obreiro "dinâmico" e empreendedor, a frente de um trabalho com 5 mil membros distribuídos por 18 municípios de Goiás, programa de rádio e forte trabalho assistencial. Um dado interessante: Carneiro estava exercendo mandato de vereador, coisa não muito comum naqueles dias dentro da denominação.

Antônio Carneiro: controvérsias no ministério 

Situada estrategicamente entre Goiânia e Brasília, na década de 1960, Anápolis viu sua população crescer mais de 50%. Era o resultado das políticas desenvolvimentistas implantadas pelo governo federal na região central do país. As ADs se beneficiavam, e cresciam também na mesma proporção.

Na CGADB de 1971, novamente Antônio Carneiro envolveu-se em um enorme conflito. Não há detalhes sobre o caso, mas Silas Daniel relata no livro História da Convenção Geral, que a criação da Convenção de Ministros Unidos de Anápolis gerou grandes dissensões entre os Ministérios de Madureira e da Missão.

Carneiro teve que renunciar a presidência da recém criada convenção, e sua participação na Convenção Fraternal da Guanabara (hoje estado do RJ) foi vetada por Túlio Barros. É possível que a ingerência da AD em São Cristóvão (RJ) na região, que tradicionalmente era reduto de Madureira, estivesse trazendo toda a questão do litígio ministerial.

Em 1983, depois de anos fora da Convenção Geral, pastor Carneiro é reintegrado aos quadros de obreiros da instituição. Declarou ele na época, que "não houve qualquer imposição por parte da Convenção quanto à integração das suas igrejas ao seio da CGADB". Imposição: talvez essa fosse a grande questão na ruptura com Madureira em 1960.

Em 1985, a AD em Anápolis teve a honra de hospedar a Convenção Geral em 1985. Sinal de prestigio para Carneiro. A primeira CGADB no Centro-Oeste poderia ser realizada numa igreja filiada a Madureira, pois as ADs na região pertenciam majoritariamente à obra fundada por Macalão. Mas, foi numa dissidência que o encontro nacional de líderes ocorreu.

Um ano depois (1986), após presidir por 25 anos a AD em Anápolis, Antônio Carneiro solicitou sua jubilação (aposentadoria) em caráter irrevogável. O pastor José Clarimundo César foi escolhido para liderar a igreja. Aos 37 anos de idade, o líder teria agora o desafio de guiar o grande rebanho. Formado em odontologia, direito e teologia, Clarimundo recebeu uma igreja, que na época contava com mais de 23 mil membros distribuídos em 30 congregações na cidade. Parecia uma sucessão tranquila. Parecia... 

Dois anos depois de deixar o comando da igreja, pastor Carneiro voltou à cena. Mas desta vez para acusar seu "ex-pupilo" e sucessor. Segundo matéria da revista Veja, o ex-pastor de Anápolis acusou César por desvios em questões morais e do não pagamento do provento mensal fixado em 10 salários mínimos. 

Segundo o antigo líder, José Clarimundo "convenceu-o a pedir aposentadoria" depois da morte da esposa e seu visível desgaste emocional e físico. Houve ainda o acerto do valor salarial que jamais seria reduzido. Cobrou a promessa na justiça.

Diante de tão sérias acusações, pastor Antônio teve seu ordenado cortado e sua frequência na igreja proibida. Outra exclusão? Pastor César, diante das graves acusações evitou comentar questões internas da igreja e reivindicou o apoio familiar em meio à crise.

A solução do caso nunca foi divulgada, mas até hoje, pastor José Clarimundo está na liderança da AD em Anápolis. Antônio Carneiro faleceu no dia 05 de agosto de 2006, aos 82 anos de idade. Nunca lhe faltou pioneirismo e controvérsias no ministério. Marcou uma época.

Fontes:

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

d'AVILA, Edson. Assembleia de Deus no Brasil e a política: uma leitura a partir do Mensageiro da Paz. Dissertação (Mestrado) - Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião, Curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião. São Bernardo do Campo, 2006.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

TÉRCIO, Jason. Os Escolhidos - a saga dos evangélicos em Brasília. Brasília: Coronário, 1997. 

Mensageiro da Paz, maio de 1969, ano 39 - nº 9, p.8.

Acervo Digital Revista Veja 04/05/1988. p. 80-81.

http://www.jornalcontexto.net/admin/images/71238100_1267185454.pdf

http://www.anapolis.go.gov.br/portal/arquivos/files/Caderno4(1).pdf

Comentários

  1. Já li li li várias matérias suas, mas não encontrei o historicamente o início dessa divisão de ministérios, Pr. Paulo Leivas Macalão fundou o ministério Madureira, mas isso foi sem divisão? No início de tudo só havia uma Assembléia de Deus fundada pelos missionários aqui no Brasil, se o Pr Paulo Leivas foi um discípulo deles, como se deu essa criação dele de um ministério? Se ele criou a Madureira, existia o ministério Belém?

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    1. O Ministério de Belém é a Assembleia de Deus desde 1910 até os dias de hoje. Devido a uma dissidência o Ministério de Madureira foi criado em 1958. Dela, surgiu o Ministério de Anápolis. Os dois casos aconteceram por conta do crescimento de algumas igrejas locais e questões de autoridade eclesiástica.

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  2. O que é triste hoje em dia é que a AD/Anápolis-GO, em 2000, entrou no G12, mudou a liturgia de culto e os usos e costumes não existem mais. Tristeza

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  3. Como assim.Não entendi o que vc falou.

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  4. Simplesmente á igreja não existe mais,O comercio tomou conta de tudo,muito triste ver como está agora .😢

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  5. Pedro já profetizou que nos finais dos tempos sugira homens gananciosos farão de vós negócios

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  6. Cada um colhe o que planta, carneiro plantou, carneiro colheu.

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