A construção do pastor-presidente

Pastor-presidente é o modelo de liderança mais conhecido dentro das ADs. Para muitos, tem-se a impressão que a igreja já nasceu sob essa forma de administração eclesiástica, sendo a titulação totalmente bíblica e "natural".

Mas, ao contrário disso, o cargo de pastor-presidente é uma construção a posteriori do nascimento do movimento pentecostal no Brasil. A consolidação desta função tão respeitada (e temível para alguns), tem relação com o sistema de governo adotado pela igreja em sua fase de expansão. 

As ADs nasceram congregacionais. Seus fundadores, segundo Freston "guardavam zelosamente a autonomia da congregação local." Mas a nacionalização da obra em 1930, e seu crescimento, mais a ascensão dos obreiros nativos mudaram esse panorama.

Paulo Macalão: Pastor Geral em 1950

Gedeon Alencar afirma, que a "militância arminiana e congregacional de uma irmandade simples, voluntariosa e profundamente marcada por fenômenos pentecostais dá espaço a um modelo institucional centralizado e regrado pelas Igrejas-Sede e seus grupos de poder...". Surge então os Ministérios, que se expandem de forma significativa.

Segundo essa lógica, Marina Corrêa observa que "...com a criação dos ministérios ADs, com tendências congregacionais, além do modelo episcopal passaram a mesclar com o presbiteriano." Mas gradativamente, o sistema gerou a formação de verdadeiros clãs, onde os "pastores assumiram uma postura mais voltada para o patriarcalismo, com sistema administrativo episcopal e, atualmente, a figura do pastor-presidente tem representatividade semelhante ao do bispo regional dos católicos."

Em 1950, no Mensageiro da Paz (2ª quinzena de abril) Paulo Leivas Macalão já é chamado de "pastor geral" do campo de Madureira. A nomenclatura de pastor-presidente aparece ainda no fim daquela década (1959), para referir-se ao líder da AD em São Cristóvão (RJ), e torna-se um padrão para outros ministérios.

Com o significativo aumento dos poderes desse líderes, as disputas por campos eclesiásticos não tardou, sendo as Convenções Gerais o principal palco dos debates e tensões entre os "santos homens de Deus". Criou-se até o termo de "jurisdição eclesiástica" para delimitar a atuação dos Ministérios capitaneados pelos notáveis líderes.

Porém, tal acúmulo de poderes não era o desejo dos suecos, e muito menos de alguns obreiros brasileiros. Mesmo depois de consolidada a figura do pastor-presidente e a influência dos seus Ministérios, algumas críticas despontavam, pois o evidente abuso de poder e supremacia de alguns, configurava-se numa anomalia no mundo pentecostal.

É que o veremos nas próximas postagens....

Fontes:

ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011. Novos Diálogos: Rio de Janeiro, 2013.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CORREA, Marina Aparecida Oliveira dos Santos. Assembleia de Deus: Ministérios, carisma e exercício de poder. São Paulo: Fonte Editorial, 2013.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.

Comentários

  1. Não se esqueçam, meus amados, que em meio a tudo isso foi instaurada, concomitantemente, a maldição e a desgraça do nojento sectarismo, do que nós, aqui em Indaiatuba - SP, somos vítimas. Você se retira daquele 'portentoso Ministério' e não presta mais para eles, que também nem sequer te saúdam com a paz do Senhor. Comportamento execrável e atitude nefanda.

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  2. Faço minhas as vossas palavras Sergio...
    Apesar de fazer parte e ser obreiro deste ministério, tenho por despresível tais atitudes cada vez mais presentes em nosso meio.

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