Os 85 anos da AD em Itajaí - os primeiros dias
Meses depois de iniciar o trabalho da Assembleia de Deus em Itajaí no dia 15 de março de 1931, André Bernardino da Silva enviou seu testemunho ao Mensageiro da Paz (1ª quinzena de dezembro de 1931, p.5). Registrou o pioneiro, que antes todos em "seu torrão natal" lhe eram carinhosos, mas depois da sua conversão as coisas haviam mudado. A aceitação por parte de alguns familiares visivelmente já não era a mesma.
Todavia, André afirmou: "desde que dei o primeiro passo para Cristo, só tenho recebido bençãos." Relembra ele à cura divina de uma grave enfermidade e que na cidade portuária "o Senhor está continuando sua obra... salvando pecadores e batizando no Espírito Santo."
Quando relatou seu testemunho, a igreja de Itajaí tinha apenas alguns meses de existência. Começou como a grande maioria das ADs no Brasil: com cultos domésticos e muito fervor. Pelas informações contidas no Mensageiro da Paz, (1ª quinzena de agosto de 1931, p.6) pode-se imaginar o impacto que a doutrina pentecostal provocou naqueles dias. Bernardino testemunha que o batismo no Espírito Santo causava "grande despertamento entre o povo incrédulo" para "ouvirem os crentes falarem línguas estranhas."
AD em Itajaí: fervor e perseguição |
Realmente, deve ter sido um espanto para os populares, que uma comunidade formada por pessoas simples, e em grande parte negras, moradoras de um reduto de ex-escravos, vivesse manifestações de uma religiosidade considerada estranha. Mais exótico ainda era a localização igreja. A AD catarinense teve sua gênese entre os becos do Quilombo e do Inferninho. A família de João Santana, que doou o terreno para construção do primeiro templo era negra.
Lá, naquele local periférico da cidade, os primeiros crentes construíram o salão de cultos e em regime de mutirão abriram uma rua no beco do Quilombo para dar acesso ao terreno dos Santanas. A nova via foi denominada de "Rua Pentecostal", e Bernardino testemunha ao Mensageiro de "multidões" que corriam "para ver a alegria do povo de Deus".
As conversões aumentaram e não tardou a vir as perseguições. Logo no começo, André desentendeu-se com o padre da região. As hostilidades então aumentaram e chegaram ao ponto extremo, quando o sacerdote católico levantou uma multidão para acabar com o culto dos crentes. Entre paus e pedras, os crentes viram o templo ser invadido e Bernardino por mãos de duas imãs foi escondido dentro de um baú debaixo de uma mesa.
Não fosse a sagacidade de uma vizinha em despistar os perseguidores, André sofreria muito. As notícias sobre a perseguição chagaram ao Rio, de onde partiu Gunnar Vingren e Samuel Hedlund para Santa Catarina com a finalidade de averiguar a situação. Reforçaram a fé dos crentes, realizaram um batismo e partiram com a situação apaziguada.
Assim foram os primeiros dias da AD em Santa Catarina. Dinâmicos, intensos e sofridos. Uma igreja de periferia, mas com uma fé e um líder de grande ousadia. Lindos e heroicos dias. Tempos para se rememorar...
Fontes:
ADAMI, Saulo; SILVA, Osmar José da. André Bernardino da Silva: pioneiro da Assembleia de Deus em Santa Catarina. Blumenau: Nova Letra, 2011.
ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007
Mensageiro da Paz, 1ª quinzena de agosto de 1931.
Mensageiro da Paz, 1ª quinzena de dezembro de 1931.
Os que semeiam com lágrimas, segarão com alegria - Salmo 126:5 É o que está fazendo a igreja catarinense, colhendo os frutos daquela semeadura de Bernardino. Parabéns por mais esta postagem.
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