A AD em Teresina - a fragmentação da história

É notório que os principais ministérios das ADs no Norte e Nordeste do Brasil possuem uma história de cisões e turbulências. No Ceará na década de 1960, Luiz Bezerra da Costa "arrancou" para a congregação de Bela Vista (e para si) a autonomia depois de um período de desavenças ferrenhas. 

Em Pernambuco, nos anos 80, a AD em Abreu e Lima conseguiu sua independência tornando-se ministério autônomo. Na Paraíba, a região de Campina Grande também se distingue da AD estadual, e na Bahia já se formaram duas convenções. Idêntico caso há no Amazonas e no Pará berço da denominação do país.

As rupturas ocorridas resultaram das tensões e lutas pelo poder eclesiástico, pois debaixo da "unção divina" os abnegados obreiros refletiram o estilo coronelista da sociedade patriarcal. Com o tempo e o crescimento das igrejas, as cisões institucionais passaram a alavancar projetos próprios ou familiares de poder.


AD em Teresina: uma igreja fragmentada

Com tantas divisões na região, a AD em Teresina não passou incólume. Após a jubilação do seu patriarca pastor Paulo Belisário de Carvalho em 1995, a igreja não teve paz nas sucessões seguintes. Nesses 20 anos, a igreja da capital piauiense passou por alguns solavancos institucionais, e agora ao que tudo indica, caminha para a total fragmentação.

Em 1997, o sucessor do pastor Paulo, o escritor Raimundo de Oliveira foi obrigado a deixar o cargo devido a graves desentendimentos com o ministério local. Assumiu então o pastor José da Silva Neto. Em 2011, cumprindo o estatuto interno uma inédita eleição à presidência da igreja se realizou. O então líder da AD José Neto concorreu ganhando por margem mínima de votos o pleito. Mas o resultado não foi digerido pelo seu oponente José de Ribamar e Silva Filho, o qual sendo supervisor de um distrito, resolveu romper com o ministério local.

Com a morte do pastor José Neto em 2013, novamente a questão sucessória foi colocada em cheque. Temendo uma nova cisão, o ministério da AD em Teresina e a convenção estadual em comum acordo - e desta vez sem eleição - indicou o pastor Nestor Mesquita à presidência, realizando o antigo sonho do veterano obreiro de liderar a igreja na capital.

Com a posse do pastor Mesquita, se garantia o mínimo de estabilidade ministerial. Porém, o destacado líder, no alto dos seus 80 anos de idade estava fadado a ser apenas um líder de transição, simplesmente protelando o problema maior para os anos seguintes. 

Pensando na sucessão (e na família), Nestor resolveu preparar a igreja e o ministério para a posse do filho. Entretanto, negociações foram necessárias, e para resguardar o herdeiro, o atual presidente abriu mão da unidade administrativa da igreja. A partir de 2016, o campo eclesiástico em Teresina será fragmentado e os setores receberão autonomia. Ao filho Irã caberá o setor centro, onde atualmente está a sede.

A divisão provavelmente agradará aos setoriais, mas segundo alguns, poderá resultar em extrema competição por membros e recursos na área eclesiástica de Teresina. A prevista abertura de congregações em campos e bairros alheios possivelmente aumentará as tensões entre os setores. 

E os membros? Pelas informações disponíveis, os fieis estão perplexos testemunhando a pulverização do patrimônio histórico e espiritual construído em décadas de evangelização. Há um clima de pessimismo no ar. Ironicamente, em 2012, foi lançado o livro do pastor Raimundo Leal Neto sobre a história da AD na cidade intitulado Uma Igreja Edificada - História da Assembleia de Deus em Teresina - Piauí. Talvez em suas próximas edições, o autor tenha que mudar o nome da obra para Uma Igreja Fragmentada...

Fonte:

LEAL NETO, Raimundo. Uma Igreja Edificada - História da Assembleia de Deus em Teresina - PI. Teresina: Halley, 2012.

Comentários

  1. O que dizer ou fazer lendo este artigo a não ser lamentar. Que o Senhor tenha misericórdia de Sua igreja no Brasil.

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  2. Joiade Santos É meu camarada, até mesmo os nossos patriarcas da fé (NHM), talvez pela idade, parece está tocando a trombeta, dando sonido incerto ao rebanho, 1 Co 14.8. Mas louvamos ao nosso bom Deus, que a despeito de tantas fragmentações na história da AD no Brasil, ela continua viva, como bem vivo está o autor, fundador e dono dessa história que jamais se apagará - Jesus Cristo, Mt 16.18. Oremos pela paz e unidade entre a liderança e membros da AD, Jo 14.27; 17.20,21. Amém.

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  3. Fico pensando: será que a fragmentação é ruim mesmo? Parece que os missionários fundadores da AD no Brasil não desejavam criar um grande império religiosos sob o domínio de uma oligarquia. A história nos mostra que eles desejavam igreja independentes e se esforçaram muito para concretizar seus ideais, tanto que foram "expulsos" e esquecidos por muito tempo. Só depois, quando das comemorações dos 50 anos da AD no Brasil, tiveram suas histórias contadas, e com muitas lacunas. Mais importante que a organização burocrática é a essência do verdadeiro cristianismo. Nesse sentido, confunde-se muito a instituição religiosa com a própria religião e seus agentes com a própria divindade. Estavam os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren errados?

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  4. Querido vc mencionou que no Ceara teve um racha, da Bela vista saindo do Templo Central, Verdade mas esqueceu que também, saiu o AD Ministério do Montese, Pastor Ozires, Agora já temos uma outra Convenção AD ministério de Fortaleza pastor Maúrino, sem fala que depois da morte do nosso Pastor Presidente do Templo Central a igreja tem duas nova liderança Pastor Antonio José Presidente da Igreja em Fortaleza, e o pastor João Bezerra Presidente da Conadec todas Ligada a CGADB

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  5. Muito triste tudo isso, a ganância e arrogância de muitíssimos pastores, porém estás cousas devem acontecer a final estamos caminhando para o aparecimento do homem da iniquidade e o arrebatamento da igreja.... Deus tenha misericórdia de seu povo. Quanto aos líderes,com certeza darão contas a Deus de seus atos!!

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  6. Muito triste tudo isso, a ganância e arrogância de muitíssimos pastores, porém estás cousas devem acontecer a final estamos caminhando para o aparecimento do homem da iniquidade e o arrebatamento da igreja.... Deus tenha misericórdia de seu povo. Quanto aos líderes,com certeza darão contas a Deus de seus atos!!

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  7. In memoriam da simplicidade dos pioneiros, deixo este louvor para a reflexão da AD Teresina fragmentada e dos irmãos que choram o péssimo testemunho que a Igreja no Brasil tem dado.
    Saudações assembleianas de Recife - PE (sim, membro de um dos lados de outra divisão)

    https://www.youtube.com/watch?v=YeoIE4YuE9A

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  8. Grande Mário Sérgio, aqui em Pernambuco temos o mesmo quadro. Da AD Abreu e Lima, temos a emancipação de Jaboatão, Camaragibe, Goiana, Salgueiro e Escada, AD Betel, AD Harmonia, mais recente e da AD Recife, temos um ministério novo em Limoeiro e outro no Jordão. Fora diversos outros pequenos ministérios fundados nos últimos anos.

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  9. Irmãos quem souber alguma notícia sobre o evangelismo do Pastor Jacob FIRMINO LIMA aquele que era presbítero quando o Pastor Paulo Belisário chegou ao Piauí e onde posso encontrar algum registro do seu ministério por favor me iinformem

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    1. Quando o pastor Paulo Belizário morreu o pastor Jacob já era pastor há muito tempo, hoje descansa no senhor Jesus.

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  10. Uma pena. Nasci na Assembléia do Porenquanto, numa época da presidência do Pr Paulo Belisário, e ao vir para o ES, assumiu o Pr Raimundo. O problema ao meu ver não é a divisão/segmentação, e sim a forma que isso se dá: Brigas, rixas, questões políticas e interesses pessoais e familiares.

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  11. Essa fragmentação tanto no nordeste, quanto aqui no sudeste,tem um lado positivo.
    Esses campos quebrados, fragmentados, não permitirá que a igreja Assembléia de Deus no Brasil, se torne um Vaticano.

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  12. Que bom que esses ministérios se quebraram, fragmentaram...
    Tudo isso tem um lado positivo, se não viraria um outro Vaticano.

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  13. Aqui na Paraíba as duas convenções: COMADEP ( com sede em João Pessoa) e COMEAD-CGPB ( com sede em Campina Grande) caminham unidas e de mãos dadas até hoje. Os seus digníssimos presidentes mantêm um relacionamento sadio e harmonioso em Cristo Jesus e um não abre trabalho nos limites eclesiásticos do outro. Isto já há muitas décadas. Não sabemos se perdurará até a volta de Jesus, mas até o dia de hoje permanece inalterável.

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