Costa x Costa - a luta pela AD no Ceará (final)

Em meio a crise eclesiástica e sucessória, Emiliano Ferreira da Costa assume a presidência da AD em Fortaleza no dia 07 de fevereiro de 1962, substituindo o pastor Armando Chaves Cohen. Com a volta de Emiliano para a capital, a crise se aprofunda e chama a atenção da imprensa local.

O jornal a Gazeta em 30 de janeiro de 1962, portanto dias antes da posse de Emiliano, publicou uma matéria afirmando que a "política partidária penetrou na Igreja Evangélica Assembleia de Deus, subindo os púlpitos e sacudindo sua tranquilidade". Segundo o periódico a "política braba" com "métodos e processos" seculares havia irrompido no meio dos crentes. O clima de uma verdadeira guerra.

Outro fator agravou a disputa pela AD cearense. Conforme o historiador Ruben Maciel, "nessa época, as ADs estavam sob uma forte influência do capital oriundo das missões norte-americanas, recebendo donativos (medicamentos, alimentos, roupas) para serem distribuídos entre a população carente". Assumir a liderança da igreja, seria a oportunidade de administrar os recursos. Para Maciel "a disputa pela liderança da igreja, iniciada em 1960, tinha relação direta com a posse desses donativos e controle sobre a distribuição".

AD Ministério Bela Vista: autonomia nos anos 60

Para complicar, contra Luiz Costa se levanta outro oponente, o político assembleiano e ex-vereador Bezaliel Teixeira, o qual, interessado nas eleições de 1962, começa a disputar com Costa os votos dos evangélicos. Os donativos entram no centro da disputa como importante moeda eleitoral. Acusações sobre o uso incorreto dos donativos são levantadas. Sem apoio do ministério, e enfrentando forte oposição, Luiz não se reelege. Volta-se então para reassumir a AD em Bela Vista, anunciando sua autonomia em 18 de fevereiro de 1963.

A partir desse momento, o que se vê é uma animosidade ferrenha, onde o estilo coronelista de resolução de conflitos se impõe com veemência. Na edição de 28 de fevereiro de 1963, o jornal O POVO publica uma matéria reveladora do clima de beligerância instalado na época entre os líderes:

Esteve, ontem à tarde na redação de O POVO, uma comissão de diversos membros da Igreja Evangélica Assembléia de Deus. Veio protestar contra arbitrariedades policiais de que foi vítima o pastor Emiliano Ferreira da Costa, presidente do Templo daquela congregação religiosa, e, ao mesmo tempo, solicitar providências de quem de direito. (...) O ex-deputado Luiz Bezerra da Costa, que até bem pouco tempo fôra o dirigente daquele Templo religioso, inconformado com a sua expulsão da Assembléia de Deus, por motivos que não nos foram revelados, achou por bem invadir e ocupar o prédio do Templo, expulsando dali a família do pastor Emiliano (...)
Disseram-nos que a esposa do pastor Emiliano foi espancada, encontrando-se ela ainda enferma (...) houve tiros, borrachadas e outra manifestações de violência. Até metralhadoras estiveram em cena. Ocuparam a casa, que ainda hoje permanece em poder do grupo chefiado pelo Sr. Luiz Bezerra, que continua a contar com a proteção da polícia (...)

Em março de 1964, o Mensageiro da Paz publica a nota de exclusão de Luiz Bezerra da Costa. A difícil situação seria discutida nas Convenções Nacionais de 1964 e 1966, tentando sempre uma saída pacífica para os conflitos. Em Curitiba (CGADB - 1964), Luiz Costa foi proibido de entrar na reunião convencional. Houve discordâncias entre obreiros e debates acalorados sobre o caso. Em 1966, um acordo foi assinado pelas partes envolvidas no conflito. A solução foi aceitar que a congregação de Bela Vista se filiasse a Convenção do Pará.

A paz foi selada, mas os ressentimentos ficaram. O sociólogo Gedeon Alencar, cujo pai fazia parte do ministério na época, relembra que o pastor Emiliano preservava em seu gabinete uma espécie de dossiê contra Luiz. Referia-se ao genro do saudoso Teixeira Rêgo sempre como "Doutor Luiz" ao invés de "Pastor"; forma sutil de não reconhecer-lhe o ministério.

Os anos passaram, os ânimos se acalmaram e os dois Ministérios prosseguiram em sua expansão. Os dois líderes até trocaram cortesias, ou civilizadamente se suportaram. Emiliano Ferreira da Costa faleceu em 1985, e Luiz Bezerra da Costa em 1993. Deixaram suas marcas nas instituições que lideraram e fizeram história nas ADs cearenses. Uma história de sacrifícios, pioneirismo, paixões e lutas. Uma história de homens mortais e não de seres angelicais. Sempre é bom lembrar esse detalhe.


Fontes:

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

COHEN, Armando Chaves. Minha Vida: autobiografia de Armando Chaves Cohen, 1985 [S.l.: s.n.]

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FRANKLIN, Ruben Maciel. A Chama Pentecostal chega à Terra da Luz: Breve História das Assembleias de Deus no Estado do Ceará 1914-2014. Pindamonhangaba: IBAD, 2014.

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