CGADB de 1987 - a busca pela (des) união

Na postagem anterior, se observou que a CGADB de 1987 foi desastrosa para a unidade das ADs. Esse encontro convencional, com certeza foi um dos últimos capítulos da conturbada convivência entre os ministérios ligados a Missão e Madureira. Mas quais teriam sido as cenas finais dessa tumultuada relação?

Primeiro é bom lembrar que, a aclamação da famosa "chapa do consenso" na CGADB de 1985, a qual foi resultado de um acordo das lideranças para contornar uma possível divisão, era tão somente um sinal da precária harmonia das ADs. Após a ratificação da "chapa do consenso", uma das matérias de destaque do Mensageiro da Paz (janeiro de 1985) sobre a Convenção Nacional intitulada "Preservada a unidade nas Assembleias de Deus" denunciava o clima de desunião entre os convencionais.

Chapa do consenso: manobra para contornar divisão nas ADs

Um ano depois, outra reunião de pastores preconizaria um forte confronto de lideranças. Alcebiades Pereira Vasconcelos, conta em sua biografia, que no início do ano de 1986 em uma reunião extraordinária de líderes das ADs do Norte em Porto Velho, foi lançado o "Manifesto das Lideranças das Assembleias de Deus no Norte do Brasil", o qual deveria ser apresentado em um Encontro de Lideranças em abril do mesmo ano em São Paulo. O Manifesto tinha como última cláusula a "proposta de uma chapa completa para a próxima Mesa Diretora da CGADB, a reunir-se em janeiro de 1987, em Salvador, BA". Nessa chapa, o pastor Vasconcelos seria apresentado como presidente.

Era evidente nesse manifesto, dois possíveis descontentamento dos líderes do Norte. Primeiro era a reação ao domínio nas últimas convenções de Mesas Diretoras com presidentes da região Sul e Sudeste. Afinal foi no Norte que a AD iniciou seus trabalhos, e agora a liderança dessa região ficava à margem do posto máximo da CGADB, assistindo a polarização entre Madureira e os ministérios ligados à Missão. Segundo: Madureira havia aberto nos últimos anos trabalhos no Norte. Um claro sinal de que o expansionismo do ministério assustava.

Para piorar, no Encontro de Lideranças, segundo o reverendo Vasconcelos "foi notado que havia seis candidatos postulando a presidência" da CGADB. Mesmo assim, houve acordo e Alcebiades foi escolhido para concorrer a presidência, em uma chapa com fortes representantes das ADs de todas as regiões do Brasil, e sem nenhum nome de Madureira.

Do tal encontro é certo que as rivalidades se acentuaram. A desagregação era tamanha, que no editorial do Mensageiro da Paz em junho de 1986, Nemuel Kessler fez a observação sobre alguns problemas (não revelados) do encontro de líderes em São Paulo, os quais somente foram atenuados com uma diplomática visita do então presidente da CGADB José Pimentel de Carvalho, e José Wellington Bezerra da Costa do Belenzinho entre outros, a Convenção Nacional de Madureira realizada no Rio de Janeiro. Segundo Kessler "A partir desse encontro começaram a dissipar-se os efeitos de desagregação proveniente do último encontro de lideranças realizado em São Paulo..."

Segundo a matéria do MP (julho de 1986), nessa Convenção de Madureira, o discurso de união dos cardeais da AD mais uma vez, implicitamente, deixava transparecer o contrário. Pastor Pimentel declarou na convenção que "nosso desejo maior é a união, queremos ter paz, queremos viver unidos até a vinda de Cristo...". Por sua vez, pastor Lupércio Vergniano polidamente desconversou e respondeu que a "Esta é uma Obra de Deus, se o nosso Deus fosse morto nós não estaríamos aqui porque a mesma não existiria".

Assim, entre artigos e discursos conclamando a unidade da igreja, e interesses controversos, a liderança assembleiana rumava para a Convenção de 1987. O quente janeiro daquele ano teria sua temperatura potencializada com a disputa acirrada, e a polêmica vitória do veterano Alcebiades Vasconcelos. Mas isso é assunto para a próxima postagem...

Fontes:


ARAÚJO, Isael de. José Wellington - Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FERREIRA, Samuel (org.) Ministério de Madureira em São Paulo fundação e expansão 1938-2011. Centenários de Glórias. cem anos fazendo história 1911-2011 s.n.t.


FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.


VASCONCELOS, Alcebíades Pereira; LIMA, Hadna-Asny Vasconcelos. Alcebíades Pereira Vasconcelos: estadista e embaixador da obra pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, janeiro de 1985

Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, junho de 1986

Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, julho de 1986

Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, março de 1987

Comentários

  1. Ainda continuo acreditando que o pastor mais agressivo pelo poder era o Manoel Ferreira.

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    1. É so ver ele hoje que você vai confirmar seu pensamento,totalmente ligado a politica e pouco ligado ao Reino de Deus.

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  2. Sugiro uma postagem analisando as rivalidades históricas entre a AD e a CCB no estado de São Paulo e na capital paulista.

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  3. Na verdade quando ouvirmos um pastor assembleiano falando que quer paz numa Convenção, se quer exatamente o contrário ou desviar o foco. É impressionante como os cacoetes da política secular se refletem em nossas igrejas.

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