Emidio Grangeiro, o esquecido

Na construção da historiografia, são vários os personagens que, por um motivo ou outro, ficam esquecidos. Uns de forma intencional. Outros talvez por descuido das novas gerações, as quais possuem a sensação de viver "numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem", como bem observou o historiador Eric Hobsbawm.

Um desses personagens é a pessoa do saudoso pastor Emidio Saraiva Grangeiro. Nascido no Ceará no dia 6 de maio de 1906, na localidade de Junco de São Pedro do Cariri, município de Várzea Alegre, Grangeiro início seu ministério no seu Estado natal, primeiro como presbítero. Em 11 de setembro de 1937 foi autorizado a trabalhar como evangelista, na cidade de Fortaleza. Em 21 de julho de 1943, na mesma igreja, foi ordenado pastor.

Emidio Grangeiro: morreu pobre e esquecido
Ainda no Ceará, pastoreou as igrejas de Riacho Verde, Afonso Pena, Serra de Donana, no município de Iguaçu, e Itapajé, onde construiu o 1º templo daquela cidade após três décadas da presença do pentecostalismo na região. Mas antes disso, pastor Emídio resolveu realizar o 1º culto na sede do município, pois havia em Itapajé em um dos seus bairros uma congregação da AD, mas o centro da cidade era carente de um local fixo para reuniões.

O culto foi marcado para o dia 25 de junho de 1946. Pastor Grangeiro, juntamente com alguns obreiros realizaram a reunião evangélica sob fortes ameaças de apedrejamento. Caso não fosse a intervenção de pessoas não crentes (um até com arma de fogo em punho), não conseguiriam seu nobre intento. 

Após esse incidente, Emídio alugou uma casa no centro da cidade e ali começou os cultos até a edificação de um templo próprio para a igreja. É notório ainda, que outros templos e obras foram realizados durante seu pastorado na região, mesmo em condições sociais e financeiras precárias.

Mais tarde, Emidio deixa a clima semiárido do nordeste e segue para Santa Catarina, onde serviu como pastor em Caçador (1952), Laguna onde construiu o 1º templo na cidade, inaugurado em 11 de junho de 1955. Pastoreou ainda em Tubarão (1961) e São Francisco do Sul. 

Pastor Emídio foi líder num tempo de muitas dificuldades ministeriais no território catarinense. Enfrentou algumas situações desagradáveis, teve que ser remanejado, sofreu injustiças. Por um período até ficou sem igreja para trabalhar, dependendo de ajuda de outros campos eclesiásticos para suprir sua renda.

Trabalhou também ao lado de seu irmão, Antonieto Grangeiro Sobrinho, o qual foi pastor em algumas cidades catarinenses. Ao ser jubilado pelo Ministério de Santa Catarina, recolheu-se à cidade de Joinville. Segundo o jornal O Assembleiano, pastor Emidio "viveu o resto de seus dias, pobre e esquecido pelos colegas". Um fim melancólico para alguém que tanto trabalhou na obra pentecostal. Morreu no dia 19 de junho de 1990 aos 84 anos.

Fontes:

O ASSEMBLEIANO. Joinville, ano IV, p. 11. novembro de 1990.

www.assembleiadedeusemitapaje.org

Comentários

  1. Triste. Ainda bem que Deus não esquece. Muitos há assim. Infelizmente, nossa igreja é autofágica.

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  2. Nesta época os pastores morriam como Paulo; hoje morrem como César!!!

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  3. Ainda hoje esse sistema autofágico perdura!

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  4. Infelizmente a maior Denominação Evangélica Brasileira (a amo e faço parte dela) não tem uma espécie de "Previdência Privada" dos Obreiros, de forma geral, de Norte a Sul do Brasil. Existem SIM, a possibilidade.
    Heitor Folgierini

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