Lydia Nelson - o amor como marca principal

Ontem completei 49 anos de idade, agora sem a presença de meu marido e amado companheiro Nels Julius Nelson. Foram 28 anos de vida conjugal e, agora, começou para mim a outra metade de um século em minha vida. Não sei quanto tempo ainda perdurarei, mas meu desejo é que o Senhor possa me conduzir sempre dentro da sua vontade e que minha vida possa servi-lhe de alguma maneira
Com essas palavras, Lydia Nelson, esposa do missionário sueco Nels Nelson abre seu diário no dia 12 de março de 1963. Seu esposo foi um grande líder nas Assembleias de Deus no Brasil. Chegou ao país solteiro e somente se casou as 40 anos de idade, já liderando a AD em Belém. A jovem escolhida para ser sua esposa foi Lydia Rodrigues, filha do presbítero Manoel Maria Rodrigues um dos primeiros crentes da igreja. 
Lydia Nelson: prêmio por obras artísticas
Porém, Lydia uma jovem criada na igreja, não ficou apenas à sombra do seu notável marido, mas exerceu um trabalho eficaz e pioneiro na área musical nas igrejas por onde passou principalmente na criação do coral feminino juvenil na AD em Belém do Pará e na AD em São Cristóvão no RJ. Nas duas igreja citadas, a pioneira organizou as apresentações natalinas, as quais encantavam os membros pela beleza das sua mensagens.

Sua atuação na esfera social também foi marcante. Com muito esforço fundou o orfanato Ebenézer, e administrou um abrigo para irmãs sem família na igreja. Para esse projeto Lydia conseguiu mensalmente uma ajuda de uma organização sueca. Mas segundo as memórias do seu filho Samuel Nelson, sua mãe percorria algumas grandes igrejas do Rio de Janeiro pedindo ajuda para o orfanato e o abrigo. Em sua estratégia de angariar fundos, ela visava principalmente os irmãos que possuíam algumas posses. Alguns deles ao perceberem sua presença e suas já conhecidas intenções "corriam dela quando a viam..."

Mas há um outro lado extremamente interessante da vida da senhora Nelson, pouco conhecido dos assembleianos. Lydia foi a primeira mulher no Estado do Pará a tirar carteira de motorista. Na verdade foi algo necessário, pois ela tinha que "se virar" com as constantes ausências do esposo em viagens, estudos bíblicos e enfermidades.
Casal Nelson pelas ruas de Belém (PA)
Hoje é algo normal ver uma mulher dirigindo um veículo, mas naquela época era algo inusitado. E mais: um sinal de independência numa área predominantemente masculina. Consequentemente as mulheres que guiavam seus carros eram alvo de comentários na sociedade. Ignorando as convenções sociais, por gosto e necessidade, Lydia resolveu ser pioneira nessa área. Ao transitar pela capital Belém era o centro das atenções e curiosidades. Afinal mulher no volante não era algo que se via constantemente.

Outra habilidade da senhora Nelson ainda desconhecida de muitos era o seu pendor para as artes. Lydia pintava e apresentava seus quadros tanto em Belém como no Rio de Janeiro. Seu nome chegou a constar na Galeria de Artistas Paraenses. Em uma exposição no RJ ganhou o 1º e 2º lugar concorrendo com apenas dois quadros. Suas habilidades artísticas também demonstradas ao pintar o batistério das ADs em Belém e São Cristóvão.

Interessante que ao falecer, somente os aspectos da atuação social da viúva de Nels Nelson foram destacados em uma reportagem do Mensageiro da Paz. Isso porque até aquele período, as atividades extras de um crente (principalmente mulher) de certa forma não eram destacadas no currículo do crente. Valorizavam-se quase sempre suas ações eclesiásticas e não as seculares. Mas o dinamismo de Lydia, porém ia além das paredes da igreja e levou-a a sempre estar engajada em projetos sociais.

Nels Nelson faleceu em 1963, e quando Lydia escreveu seu diário e expressou que seu "desejo é que o Senhor possa me conduzir sempre dentro da sua vontade e que minha vida possa servi-lhe de alguma maneira" mal sabia que ainda ela teria mais 23 anos para realizar projetos, viajar e instrumentalizar a obra social. No culto fúnebre na AD em São Cristóvão em 1986 muitas palavras foram ditas em sua homenagem. Mas a frase que melhor sintetizam sua vida foi a da abertura da matéria: "O amor ao próximo era sua marca principal".

No dia 18 de julho de 1986 foi sepultada a viúva de Nels Nelson, a pioneira motorista de Belém, a apreciada artista de belos quadros e, sem esquecer, a paciente mãe e dedicada esposa de um grande missionário. Seu filho Samuel Nelson, em suas conversas lembra com saudades e carinho que, sua mãe além das muitas qualidades e trabalhos desempenhados na obra, gostava mesmo era de puxar suas orelhas (quase as arrancava) devido as suas muitas traquinagens. Enfim, deixou saudades em toda a igreja. Mas hoje relembramos suas conquistas.

Fontes:

NELSON, Samuel. Nels Nelson - O Apóstolo Pentecostal Brasileiro. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.

Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: 1986 p.10

Comentários

  1. Emocionante e edificante essa matéria, isso mostra a grandeza de muitos e muitas servas de Deus, que quase passam no anonimato, mais fazem uma grande obra.

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