Assembleia de Deus em Manaus: algumas considerações

Na postagem anterior, a refletiu-se sobre a divisão na AD em Manaus e no Estado do Amazonas. A mudança de rumos nos trabalhos evangelísticos e doutrinários da igreja ocasionou uma cisão no ano de 2000, quando um grupo de pastores e membros fundou a AD Tradicional. 

Para os partidários do pastor Jonatas Câmara, o que a igreja passou a implantar foi somente a adoção de "novos métodos". Por outro lado, para os oposicionistas a denominação naquele momento estava se rendendo ao polêmico e antibíblico G-12.

Templo da AD Tradicional: reconhecida em 2011 pela CGADB
Como era de se esperar, tamanha celeuma ganhou notoriedade pelo Brasil afora. A divisão ocorreu no ano de 2000, e na CGADB de 2001 as discussões já se tornaram evidentes. Segundo Silas Daniel no livro História da CGADB as polêmicas em torno da implantação do G-12 gerou um "concorrido debate entre os convencionais". Ainda segundo o autor, o pastor Ezequias Soares de SP, "expôs todos os pontos heréticos do movimento", os quais para ele eram claramente contrários à Palavra de Deus.

Dando sequência nos debates, Silas Malafaia "que havia combatido o Movimento G-12 em rede nacional através do seu programa Vitória em Cristo, também alertou os convencionais para os perigos das doutrinas heréticas do movimento". Outros convencionais se posicionaram contra, e sugeriram a exclusão dos obreiros envolvidos no G-12. Malafaia, porém pediu cautela, e uma análise mais detalhada dos casos. Foi criada um comissão, mas nada se informa depois. Em outras convenções Jonatas Câmara até permanece em conselhos regionais da CGADB.

Em todo o registro feito por Daniel não há menção de nomes e convenções, mas fica evidente que a AD em Manaus e possivelmente a AD em São Cristóvão (RJ) estivessem na mente dos líderes. Nos dois casos há algo em comum: as ligações familiares. Túlio Barros Ferreira, então pastor da AD em São Cristóvão era sogro de Jonatas Câmara de Manaus. Não era somente algo espiritual, mas sim familiar, ou seja, uma família dando novos contornos a ADs mais tradicionais.

Mas não deixa de ser contraditório. Na CGADB, alguns obreiros pedem a exclusão de ministros adeptos do G-12, enquanto que em Manaus os dissidentes da igreja por causa dos "novos métodos" são desligados da mesma instituição, sendo somente reintegrados em 2011 aos quadros da convenção nacional.

Outro ponto vital nesse caso, que não foi debatido (e nunca o será provavelmente), é justamente que o grande problema em Manaus foi a imposição da cúpula a um modelo de trabalho tão controverso. Pelo que se percebe, não houve negociações, debates ou abertura para pontos de vista contrários. A simples imposição a "nova visão" por parte do pastor de plantão, é uma prática de vários líderes da AD. Câmara não é o único nesse tipo de atitude, pois muitos dos chamados "conservadores" são idênticos nessa postura. Em suma, ou o membro e obreiro "está dentro da visão" do "ungido", ou está sumariamente desligado, desprestigiado e excluído do obra.

Aliás, esse modelo de liderança - episcopal, familiar, coronelista e anacrônico - só é democrático na convocação para que os membros contribuam e se doem em trabalhos voluntários, e façam um esforço máximo em prol de projetos vistos como prioritários para os próprios pastores. Não foi só em Manaus que a liderança forjou um projeto visto como alheio aos anseios populares. Em muitas outras localidades atitudes semelhantes acontecem. É a falta de sintonia e identificação das lideranças com os crentes. Não é sem motivos que a AD se encontra cada mais fragmentada.

Fontes:

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

http://ceadtam.com.br/?var=historia (acesso 26/04/2014)

Comentários

  1. Favor dar um exemplo de uma Igreja Evangélica cujo modelo de liderança não seja "episcopal, familiar, coronelista e anacrônico".

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  2. Favor dar um exemplo de uma Igreja Evangélica cujo modelo de liderança não seja "episcopal, familiar, coronelista e anacrônico".

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  3. Pr. Ronaldo Lucena,

    Igreja Presbiteriana é um exemplo, já que a administração não é centralizada na figura pastoral. Há um conselho.

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