Congresso de jovens e a Segurança Nacional

Como já foi exposto nesse blog, os evangélicos em geral apoiaram o golpe militar de 1964. Perceberam o acontecimento político como resposta de Deus ao perigo comunista. Foi dado ao evento, como observou Robson Cavalcanti, uma áurea de "sacralidade" e o apoio foi quase total.

As Assembleias de Deus, através do Mensageiro da Paz não se manisfestaram sobre os acontecimentos de 1964. Mas o posicionamento de sua liderança ficou muito evidente, seja no silêncio, ou em eventos oficiais da igreja, onde o apoio e alinhamento aos militares ficou muito explícito.

Um exemplo disso, foi o VI Congresso da UMADER realizado em 1972. O evento (descrito no MP de junho de 1972, p.6-7), realizado na cidade de Volta Redonda, onde se encontra a famosa Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), foi considerado "o maior movimento de jovens no Brasil". 

Pelo fato da CSN ser considerada "O Coração do Aço do Brasil", o Mensageiro da Paz, usando palavras de efeito disse que: "nos dias do congresso, o Coração de Aço foi derretido pelo poder do espírito de Deus!".

Realizado entre os dias 23 a 27 de fevereiro, o Congresso teve uma programação extensa com devocionais, plenárias, testemunhos, cânticos e estudos bíblicos. Além da juventude assembleiana, vários líderes (inclusive Paulo Leivas Macalão) compareceram ao evento prestigiando a liderança jovem. 

Porém, é no dia 25 ( sexta-feira), que além dos habituais estudos e devocionais, ocorre no período vespertino uma concorrida palestra com o comandante do 1º BIB, Ten. Cel. João Cássio Martins de Souza intitulada "Segurança Nacional".

Militares: "salvadores da pátria" contra o comunismo ateu

Como se sabe, a Segurança Nacional era um conceito chave da ideologia do Regime Militar e de sua manutenção. Apontava para um inimigo em comum (os comunistas) e apelava para os valores da ordem e do civismo como forma de coesão social. A AD nesse evento, com o consentimento dos seus líderes, patrocinou a ideologia da caserna entre seus obreiros e membros. 

Não é novidade que alguns líderes e pastores cursaram a Escola Superior de Guerra (ESG), onde a Doutrina da Segurança Nacional era ministrada. Altamires Sotero Cunha (então diretor da CPAD) por exemplo, tinha em seu currículo a formação na ESG.

O Mensageiro da Paz relata ainda, que o Ten. Cel. ficou "visivelmente emocionado com o espírito de civismo e patriotismo dos crentes e Jesus Cristo". O apoio dos evangélicos (pentecostais ou tradicionais) era importante nesse momento. O governo militar, apesar da prosperidade econômica, já não era mais unanimidade principalmente na classe média e entre os intelectuais. 

Também não é novidade, que um dos seus principais líderes, Paulo Macalão, mantinha vínculos com militares. Pode ser que essa palestra tenha sido somente uma evidência desses contatos. Aliás a causa nacionalista era comum entre eles.

Porém, uns dos pensamentos que dominavam e seria decisivo para esse alinhamento ao regime, é a interpretação do texto de Romanos 13.1 que afirma: "Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus". Os militares haviam salvado o país do comunismo ateísta. A forma como as igrejas, tanto católica como evangélicas saudaram o golpe, fez que esse texto tivesse uma mística maior.

Anos depois, esse medo do comunismo seria explorado nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte em 1986. Seria revivido na campanha presidencial de 1989. E a cada eleição, de uma forma ou de outra outros medos seriam explorados...

Fontes:

CAVALCANTI, Robison. Cristianismo e política. Niteroi: Editora Vinde, 1988.

FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.

FRESTON, Paul. Evangélicos na política: história ambígua e desafio ético. Curitiba: Encontrão Editora, 1994.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O caso Jimmy Swaggart - 30 anos depois

Iconografia: quadro os dois caminhos

Assembleia de Deus e a divisão em Pernambuco (continuação)