AD Ministério do Belenzinho: proibição da TV

O Mensageiro da Paz, órgão oficial das Assembleias de Deus no Brasil, sem dúvida alguma (como em outros temas) refletiu em suas páginas à problemática relação da igreja com a TV. Como as Assembleias de Deus são muito heterogêneas, os pontos de vista variavam. A postura geralmente era de conservadorismo, porém em determinados momentos, o assunto televisão  - conforme ela se popularizava - recebia nas páginas do MP tratamento diverso, refletindo as diferentes opiniões sobre o aparelho.

Mas, alguns momentos são emblemáticos, até para se compreender as posturas conservadoras de cada ministério. Talvez, uma das posições mais fortes contra à TV procedeu do Ministério do Belenzinho (SP). 

TV: em 1962 era o mal sorrateiro entrando na igreja

Em setembro de 1962, na Escola Bíblica e Convenção Regional do Ministério do Belém, os obreiros deliberaram - sob à presidência do veterano pastor Cícero Canuto de Lima - sobre o uso da televisão. Publicado no MP (2ª quinzena de agosto, p.6), transcrevo aqui na íntegra a decisão do ministério.
...Um dos assuntos resolvidos pela Convenção foi o uso da "televisão". Vários pastores expuseram à Convenção a inconveniência do uso de "Televisão" pelos crentes, mal que esta penetrando sorrateiramente, na igreja, - o pior, são os "defensores intransigentes" a proclamarem as "grandes vantagens". Estudando o assunto, e tendo em vista a preservação da doutrina seguida pelas Assembleias de Deus, no Brasil, desde o princípio, e responsabilidade que têm os Obreiros no sentido de manter rigorosa vigilância ao rebanho do Senhor, guardando-o de modernismos perniciosos resolveu a Convenção:

a) nenhum Cooperador poderá adquirir "televisão", caso o fizer será suspenso da Cooperação e o seu caso seja tratado pelo Ministério;
b) que os obreiros proíbam aos crentes o uso de "televisão" e bem assim a compra, fiando sujeito a disciplina aquele que, avisado, desobedeça aos conselhos e recomendações;
c) que a Convenção ao tomar as deliberações acima, visa resguardar o rebanho de Deus, dos efeitos negativos sobre a vida espiritual dos crentes que, infelizmente, têm adquirido "televisões". 
Na continuação do texto, escrito pelo pastor João Pereira de Andrade Silva, afirma-se que as deliberações da convenção foram ratificadas por uma profecia. Nada mais pentecostal e assembleiano para se encerrar uma reunião como essa.

É interessante, que a resolução mais conhecida da CGADB sobre a interdição dos fiéis possuírem TV é de 1975. Mas ali se falava em "abstenção", mesmo que na prática o que valia mesmo era a proibição, disciplina e exclusão para quem desobedecesse as orientações dos líderes da igreja. Porém, o eufemismo foi mantido.

Já a deliberação publicada no MP em 1962, as palavras de proibição e ameaças são claras. Vale lembrar, que a TV estava em sua fase de popularização, talvez por isso a colocação "mal que esta penetrando sorrateiramente, na igreja". Percebia-se cada vez mais o acesso ao aparelho de TV e os obreiros sentiam-se no dever de coibir esse "mal".

Outra curiosidade é a constatação de "defensores intransigentes", os quais proclamavam as "grandes vantagens" do uso da TV. Na verdade, a publicação das resoluções, era um recado claro do Ministério presidido por Cícero Canuto de Lima, e do perfil conservador de sua gestão. Mas quais seriam as "grandes vantagens"? Pregação e evangelização através da TV? Caso fosse esse o pensamento, o ministério liderado pelo pioneiro se posicionava com vigor contra tais projetos.

No imaginário de muitos crentes, o Ministério de Madureira sempre é tido como extremista. E Madureira era mesmo de particularidades que hoje soam bizarras. Porém, na "guerra de conservadorismos" como bem salientou o sociólogo Gedeon Alencar, o Ministério do Belenzinho se esforçava para se destacar. Todas queriam ser a "legitima" Assembleia de Deus, ou seja, aquela com mais "doutrina"...

Fontes:

ALENCAR. Gedeon Freire de. Assembleias Brasileiras de Deus: Teorização, História e Tipologia- 1911-2011. Pontifícia Universidade Católica: São Paulo, 2012.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

MATTOS, Sérgio Augusto Soares. História da televisão brasileira – Uma visão econômica, social e política. 4.ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2009.

MENSAGEIRO DA PAZ. 2ª quinzena de agosto de 1962. Rio de Janeiro: CPAD.

Comentários

  1. Um vez ouvi de um Pr. que uam certa igreja AD só por permitir o uso de brinco e pinturas femininas, a mesma foi taxada por ele de AD Paraguaia. rsrsrsrs... o que discordo prontamente. Paz.

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  2. Isso mostra uma realidade da época onde não havia um programa sequer direcionado aos evangélicos, hoje existem programas embora sejam de baixa qualidade. Mas a resistência ainda existem por parte de alguns lideres que parece que pararam no tempo.
    Gostei da matéria, muito boa.

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  3. Sim amigo. Alguns até gostariam de voltar no tempo e manter aquele velho rigor e controle sobre as ovelhas. Abraços!

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  4. Nasci na IPDA e lembro-me bem dessas proibições. Sabemos que o pecado não está no aparelho televisivo, entretanto, depois de tanto tempo, em linhas gerais pergunto e gostaria de ouvir opinião dos irmãos. Será que nós cristãos já aprendemos a dosar o uso da TV? Equilibrar nossa vida de oração, estudo e meditação da palavra com período na frente da TV? Os efeitos do uso da mesma foi mais positivo ou negativo?

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  5. Acabaram com a assembléia de Deus no Brasil, principalmente Madureira, os caras só pensam em dinheiro e fama, ternos caros com gravatas combinando com a gravata, pulseiras, anéis caríssimos, carros de luxo, viagens internacionais,cachorros dentro da igreja como damas de honra desrespeitando os seres humanos ou melhor os crentes que contribuem com o dízimo que sustentam suas riquezas falando em nome de Jesus, o Pastor tinha que ser o homem mais humilde da igreja, mas em Madureira é o líder, é o grande FARAÓ, que pune, esculacha, e da as ordens, coitados dos mais inocentes, mas JESUS vai tratar com eles pode ter certeza. Sinto pena dos menos esclarecidos, depois querem falar da UNIVERSAL, fazem o mesmo.

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    1. Pois é meu irmão, mata a ovelha, comem a carne é vendem a lá

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  6. Tempos bons,depois que aceitaram muitos ficaram mornos.

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  7. Bendita Netflix, e TV a cabo, um catálogo de programação à disposição, continuamos com o poder de decidir entre o ligar, desligar e mudar o canal! Mas convenhamos, boa parte da programação nos canais abertos está beirando a lata de lixo, poucas opções pra quem é seletivo em suas escolhas.

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  8. Boa parte da programação nos canais abertos está beirando a lata de lixo, continuamos com o poder de decidir entre o ligar, desligar ou mudar de canal, mas as opções para quem é seletivo em suas escolhas é péssima! Opções "smart" ajudam bastante; smartvs, chromecast e TV a cabo minimizam essa baixa qualidade na programação!

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  9. É meus irmãos, realmente haviam essas proibições, peguei essa época, confesso que os crentes eram mais fervorosos, evangelizavam, e dificilmente ficavam em casa

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  10. As igrejas hoje, não prezam por uma disciplina sadia, Pastores preferem a quantidade em vez da qualidade.

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