A Assembleia de Deus em Joinville: um pouco de sua história

Recentemente divulgados, os números do censo do IBGE revelaram a expansão das Assembleias de Deus no Brasil. Com um crescimento de 46%, saltando de 8,5 milhões de membros para 12,3 milhões, a denominação com sua diversidade de ministérios e convenções é o maior grupo evangélico no país. 

É bom lembrar que esse crescimento se dá num momento de disputas de poder interno e de fragmentações, as quais permitem que suas ramificações espalhadas pelo Brasil se portem como rivais uma das outras. Talvez, esteja ai um dos maiores motivos do crescimento assembleiano.

Os números divulgados pelo IBGE também revelam, que a Assembleia de Deus em Joinville, conta atualmente com mais de 55 mil membros, ou seja, a denominação atinge 10% da população da maior cidade de Santa Catarina. Sua história é o reflexo da própria história da denominação no país, pois as transformações ocorridas com a igreja na "Cidade dos Príncipes" foram simultâneas em outras ADs no Brasil.


Organizada em 1933, à partir de um núcleo de poucos fiéis, a AD em Joinville sobreviveu a muitas perseguições e obstáculos. Segundo os registros de sua historiografia, por volta de 1941 a igreja já contava com aproximadamente cem membros, e por estar localizada numa região de contínua expansão comercial e industrial, já se destacava como uma das principais (ou a principal) igrejas do estado catarinense. No mínimo era essa a percepção que Albert Widmer, um dos pioneiros pentecostais no estado, deixava transparecer no seu texto ao Mensageiro da Paz quando diz que:

Joinville, a mais importante cidade onde as indústrias estão em atividade, dia e noite, e o povo ordeiro procura a paz e o trabalho, não podia ficar sem a visitação da mensagem pentecostal. Em menos de 2 anos, levantou-se aqui uma igreja forte e próspera. De tempos em tempos, realizamos batismos nas águas, e o número de membros esta constantemente aumentando, tornando-se, assim, a maior igreja evangélica do Estado (Mensageiro da Paz, 1938)

No ano de 1941, ao assumir a igreja, o missionário Vilgil Smith organiza departamentos, abre congregações e lidera a construção do primeiro templo da AD em Joinville. Nessa mesma época algumas empresas estavam surgindo na cidade, gerando vários postos de trabalho e atraindo pessoas de outras regiões do estado catarinense para a cidade: Fundição Tupy (1938), Companhia Hansen Industrial (1941) e Indústria de Refrigeração Consul (1950). 

Assim, por contar com esses fatores socioeconômicos, a denominação vai se expandindo e se torna ponto de apoio para o crescimento da AD por todo norte e nordeste de Santa Catarina. Essa evolução da igreja é confirmada no relato do pioneiro João Bernardino da Silva em um relatório do trabalho pentecostal para o Mensageiro da Paz no ano de 1945 quando diz: "Joinville esta cooperando com a evangelização do grande campo norte de Santa Catarina... A igreja de Joinville coopera espiritual e materialmente com três obreiros do interior que estão levando com energia e fervor o trabalho as principais cidades..."

Porém, é a partir do fim da década de 1960 e principalmente nos anos de 1970 e 80, que a AD joinvilense terá um acentuado crescimento numérico e material. O período de forte industrialização brasileira, que envolverá a cidade de forma direta através da produção de sua principais empresas, gera uma necessidade de mão de obra, que será buscada intensamente dentro e fora da cidade. Joinville nesse momento de sua história, se torna o principal destino de várias pessoas que buscam melhorias de vida, pois a crise no campo e a intensa propaganda das empresas em busca de trabalhadores, leva a cidade a dobrar sua população em poucos anos.

Nesse contexto, a AD na cidade duplica o número de congregações e aumenta consideravelmente o número de membros. No ano do seu cinquentenário (1983), a AD na cidade conta com cerca de 47 congregações e 12 mil membros. Dessas 47 congregações, mais da metade delas foram abertas entre nos anos de 1969 e 1983 ano do jubileu de ouro da igreja. Algumas congregações são fruto direto da onda de imigração ocorrida na cidade, outras tem seus templos ampliados para dar abrigo a novos fiéis que chegam em busca de apoio e auxílio espiritual.

Nesse instante, a AD já é uma igreja respeitada. Os tempos de perseguição e de marginalização vão sendo superados para dar lugar a integração social e a crescente participação política na sociedade. A consciência de que seu espaço social deve ser ampliado, leva sua liderança ainda na década de 80, além da abertura de novas congregações, da construção do novo e moderno templo sede, a participação direta na política partidária com um candidato saído diretamente se seu rol de membros.

Assim, a AD em Joinville chega aos 55 mil membros e quase 80 anos de fundação com rápidas transformações sociais e políticas. Dos cem membros perseguidos dos seus primeiros anos, passando pelos 12 mil que experimentaram uma série de mudanças socioeconômicas, divisões e a inserção na política partidária, a AD chega aos dias de hoje com um patrimônio material e numérico vistoso, cobiçado e representativo da sociedade na qual esta inserida.

Fontes:

GUEDES, Sandra P.L. de Camargo (org.). História de (I)migrantes: o cotidiano de uma cidade. Joinville: Univille, 2000.

POMMERENING, Claiton Ivan (Org.). O Reino entre príncipes e princesas: 75 anos de história da Assembléia de Deus em Joinville. Joinville: REFIDIM, 2008.

TERNES, Apolinário. História de Joinville: uma abordagem crítica. 2. ed. Joinville: Meyer, 1984.

VIEIRA, Adelor F. (Org.). 1983 - ano do cinqüentenário da Igreja Evangélica Assembléia de Deus Joinville - SC. Joinville: Manchester.

Comentários

  1. Muito bom encontrar esse blog,nos faz conhecer um pouco das AD no Brasil.

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  2. A PAZ DO SENHOR JESUS CRISTO, É MUITO BOM CONHECER AS RAÍZES DE NOSSA IGREJA, ALÉM DISSO, QUANDO TOMAMOS CONHECIMENTO DO ÁRDUO TRABALHO DE NOSSOS ANTEPASSADOS, ISSO NOS RENOVA.

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