Tancredo Neves - o impeachment divino

Tancredo de Almeida Neves (1910-1985) foi um homem de intensa vida política. Mineiro de São João del-Rei, construiu sólida carreira política em seus 75 anos de existência. Eleito vereador, deputado estadual e federal, senador e governador de Minas Gerais, destacou-se ainda como ministro de Estado no governo Vargas, e primeiro-ministro na fracassada experiência parlamentarista do governo de João Goulart. 

Com o enfraquecimento do Regime Militar em meados do anos 80, Tancredo renunciou ao cargo de governador de Minas, e com apoio do PMDB e da Frente Liberal (dissidência do PDS partido do governo), elegeu-se via indireta presidente do Brasil. Porém, as vésperas da posse, vitimado por uma diverticulite, não assumiu o cargo máximo da política brasileira, morrendo no dia 21 de abril do mesmo ano.

Por estar liderando a transição do autoritarismo militar para o regime democrático, Tancredo encarnava as esperanças de democracia e desenvolvimento socioeconômico para o Brasil. Sua morte, em meio ao processo de mudanças denominado de "Nova República", trouxe grande frustração e tristeza para o povo, que tanto apostava em sua larga experiência para tirar o país da crise. 

Para a memória popular, à imagem de Tancredo Neves é a do herói trágico, abatido em pleno voo por uma dessas desgraças que acontecem por fatalidade do destino. Seus dias de internação, cirurgias e consequente morte foram divulgadas pela mídia como um calvário, um suplício, no qual a figura do político cedeu lugar à imagem de um santo. O insucesso de seu sucessor José Sarney no governo, reforçou a impressão popular de que com Tancredo no comando da nação tudo seria melhor.


Tancredo: vítima de um impeachment divino?
Isso para o imaginário popular. Pois para os assembleianos, Tancredo teria sofrido um impeachment divino. Mas quais seriam os motivos, para que o presidente eleito sofresse um impedimento celestial? 

Acreditava-se na época que, ao assumir o governo, Tancredo iria tonar novamente a Igreja Católica Romana, a denominação oficial do país. Outra razão para que seu processo de impeachment celestial fosse deflagrado, seria o fato de Tancredo Neves ter desafiado ninguém menos que Deus.

Tancredo Neves era muito religioso. Sua família era extremamente católica, e ele mesmo acompanhava procissões e missas. Pouco depois de ser eleito pelo Colégio Eleitoral viajou ao exterior e foi recebido pelo Papa João Paulo II em Roma. A revista Veja (16 de março de 1985) destacou a religiosidade do presidente, e chegou a afirmar que ele seria o chefe de estado brasileiro mais ligado à Igreja Romana após D. Pedro II. 

Por ser extremamente ligado ao catolicismo, sua internação às vésperas da posse, e consequente morte, foi interpretada pelos evangélicos como um livramento divino. Dentro dessa ótica, a efetivação de José Sarney no cargo de presidente teria sido uma "providência divina", pois tudo indicava que uma vez no cargo, Tancredo confirmaria o Catolicismo como a religião oficial do Brasil.

Mas, a questão mais séria para muitos foi o fato de Tancredo Neves ter desafiado a Deus. Isso aconteceu quando, no processo de viabilização de sua candidatura, o futuro presidente, ao contar os votos da oposição e da dissidência do partido governista disse que: "Se eu tivesse setenta votos do PDS não precisaria da ajuda nem de Deus." 

Meses depois de sua morte, o Mensageiro da Paz (novembro de 1985) em uma reportagem intitulada "Nem Deus conseguirá afundar este navio", matéria na qual o MP destacava as celebridades que um dia desafiaram a Deus e tiveram um fim trágico (ex: Titanic e John Lennon), pinçou a frase de Tancredo publicada na revista Veja (16 de março de 1985), colocando o político mineiro como mais um derrotado por seu orgulho e soberba contra o Criador.

A matéria do MP repercutiu muito pelas Assembleias de Deus no Brasil, e ajudou a criar a versão oposta àquela divulgada pela mídia sobre a imagem de Tancredo. Para a maioria da população Tancredo era o mártir da liberdade, mas para os assembleianos ele era o homem que desafiou Deus.

Para terminar esse artigo fica aqui algumas reflexões. Tancredo de fato era um católico praticante, mas também era um político consumado. Ou seja, com seu largo conhecimento da política e da leis constitucionais, oficializaria a Igreja Católica depois de quase cem anos da separação entre igreja e estado? Ignoraria ele, ou permitiria que os evangélicos ficassem sem direito de culto e liberdade religiosa já no fim do século XX? Faria ele o Brasil recuar praticamente ao século XIX em termos de direitos individuais e religiosos?

Sobre a frase interpretada como um desafio a Deus, não teria ele usado uma figura de linguagem, sendo na verdade sua intenção destacar que com alguns votos da dissidência do partido do governo e do PMDB ele fatalmente seria eleito presidente da República? Como tomar literalmente essa frase de Tancredo como blasfêmia, se ele próprio era um homem de profundo sentimento religioso? 

Caso Tancredo tenha desafiado a Deus e sido punido por isso, como se explica que muitos pregadores e teólogos da prosperidade hoje estarem vivos? Pois em matéria de tomar o nome de Deus em vão esses senhores são os maiores especialistas.

Já se passaram 30 anos, mas a imagem do político mineiro no contexto assembleiano ainda é marcada por essa controvérsia. Passou para o folclore pentecostal e sua história extraoficial.

Comentários

  1. Graça e Paz...

    Penso que já passou da hora de os evangélicos pararem de atribuir a Deus essa postura severa e punitiva, milhões de pessoas blasfemam de Deus diariamente como ateus e satanistas, eu mesmo na minha juventude até os vinte anos era adepto do satanismo, participei de muitos shows de bandas de black metal (metal negro) e nesses shows que eram verdadeiros cultos a satan com direito a glórias e aleluias se blasfemava muito de Deus, cansei de chamar Jesus Cristo de covarde e cuspir prá cima, e olha onde vim parar; mas não há melhor exemplo do que os citados por ti no post, esses pseudo-pastores que usam o nome de Deus para suas próprias conveniências, é lamentável...

    Tia 2:13 - Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.

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    1. Apocalipse 22:15 - Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem e os homicidas e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira.
      Explicando > Os cães são os falsos pastores e líderes religiosos que executam o capítulo 34:1-10, e serão jogados no lago de fogo e enxofre, por seus atos de barbárie econômica e espiritual.
      Já o Tancredo Neves foi soberbo e de Deus ninguém se escarnece.

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  2. Caro,amigo.
    O problema,e quer o José Sarney.
    É o maior macumbeiro do Brasil.
    Ele é o chefe de todos,os terreiros de macumba do Maranhâo.
    Maranhão,éo centro do diabo na terra,depois da Africa.
    A cidade de Codó,é a cidade,aonde tem maior metro quadrado,ocupado por terreiro de macumba no mundo.{Guiness Book}

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  3. quanta bobagem dos crentes não tem nada a ver a morte dele com religião e sim com politica, vão estudar a bíblia!! e não a vida dos outros.

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  4. Os evangélicos são as pessoas mais hipócritas da face da terra, passam a vida fazendo o contrario do q pregam. Vão praticar o bem sem olhar a quem. Lembrem-se q Deus ver tudo, até seu coração.

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  5. Sou evangélica da Assembléia de Deus e concordo quando diz que como pode Tancredo sendo um homem tão religioso ter falado tal coisa?
    Acredito se falou não foi com a intenção que colocaram.
    Evangélicos e católico amam e reconhecem a Deus como criador de todas as coisas.
    Somos irmãos.
    Deus é amor. O homem que não tem misericórdia enfoca falando essas coisas, criticando os outros como se não tivesse defeitos.
    Precisamos ter mais a mente de Cristo e amar ao próximo como a nós mesmo como nosso Deus ensina.

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  6. É impressionante como você defende esquerquerdopatas.

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