Ainda sobre as eleições: o perfil dos candidatos pentecostais

Ainda continuando sobre a eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, é importante destacar o perfil dos candidatos apoiados pelas igrejas, ou seja, quem a liderança buscou para fazer a representação da denominação como um todo.

Paul Freston descreve em seu livro Evangélicos na Política Brasileira, as qualidades ou as qualificações dos primeiros candidatos pentecostais. Em suma eles eram pregadores ou cantores conhecidos dos fiéis. Portanto tinham projeção eclesiástica, pois numa eleição majoritária, ter um nome já conhecido ajudava no projeto de eleição do candidato oficial. Lançar um desconhecido talvez não seria um bom negócio. Outra qualificação era a de empresário de origem humilde, mas bem sucedido na carreira profissional. Outro fator para indicação foi a ligação do pretendido candidato com a mídia evangélica.

Geralmente um candidato reunia em si duas , ou senão três dessas qualificações citadas acima. Um exemplo é o caso de Matheus Iensen. Eleito deputado constituinte em 1986 pelo estado do Paraná, Iensen atuava como empresário de mídia (controlava emissoras de rádio e uma gravadora evangélica), mantinha programas próprios  em suas rádios, e com isso, alimentava juntamente com a família, uma bem sucedida carreira de cantor sacro.

Iensen: cantor, comunicador e empresário. Qualidades de um candidato evangélico.

Certamente, uma coisa pelo menos unia a grande maioria dos candidatos: a falta de experiência política. Segundo Freston sete dos deputados pentecostais eleitos em 1986, "surgiram politicamente do nada". Esse dado simplesmente revela o caráter imediatista que as eleições tiveram para os evangélicos. O importante era a garantia da liberdade religiosa, e a defesa dos valores culturais tidos como importantes para os mesmos.

Mas outra característica, ou qualidade, a qual poderia fazer de alguém um potencial candidato oficial da igreja, seria sua ligação familiar com o principal pastor da Assembleia de Deus do estado ou região. Foi à partir desse momento, que em todo o Brasil, familias pastorais passaram a investir em seus membros como futuros candidatos. 

Não bastava mais aos líderes assembleianos constituírem seus filhos, genros ou apadrinhados no ministério da igreja. Era preciso de agora em diante, alcançar maior status; e esse status a política poderia oferecer, engrandecendo o nome da dinastia e consolidar ainda mais o poder do líder religioso, o qual era, a partir desse momento, o grande patrocinador e cabo eleitoral de seu "escolhido". Interesses de família se mesclam com interesses denominacionais. Prováveis candidaturas são desestimuladas, e potenciais líderes comunitários e sociais, ainda que pertencentes a denominação, são preteridos por projetos familiares.

Essas marcas da política assembleiana e pentecostal, ainda são visíveis em nosso meio. Cantores e pregadores com destaque no meio religioso, sem ter um projeto, ou preparação política se aventuram a cada eleição. E alguns infelizmente conseguem se eleger. Pastores de grandes igrejas lançam seus protegidos do nada, e usam seus obreiros como verdadeiros cabos eleitorais, para muitas vezes tentar o êxito de um desconhecido na eleição. Felizmente muitos naufragam nessa tentativa.

Com algumas modificações e particularidades, ainda é esse o retrato dos candidatos oficiais da quase centenária Assembleia de Deus no Brasil.

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