A Assembleia de Deus e a educação teológica: uma difícil aceitação

A morte da missionária Ruth Dorris Lemos no dia 23 de outubro de 2009, causou pesar em todo o Brasil devido a grande contribuição que ela e seu esposo pastor João Kolenda Lemos deram ao avanço teológico entre as Assembleias de Deus no Brasil. Foi esse casal, com um grupo de pastores brasileiros e missionários, que no ano de 1959 fundaram o Instituto Bíblico das Assembleias de Deus (Ibad) em Pindamonhangaba cidade do interior do estado de São Paulo.

No ano da fundação dessa escola teológica, as Assembleias de Deus no Brasil possuíam templos espalhados por todo o país, 48 anos de existência, milhares de membros e obreiros, mas na questão do ensino teológico sistematizado estava somente engatinhando.

Quais as razões desse aparente atraso educacional? Seria a falta de recursos materiais para um projeto de educação teológica formal, com a criação não de um, mas de vários institutos pelo Brasil? Seria a falta de professores qualificados para ministrar os conteúdos básicos das doutrinas bíblicas esposados pela denominação?

As respostas a essas questões e muitas outras se encontram nas próprias origens sociais e religiosas dos missionários suecos, pioneiros do trabalho pentecostal no país e na formação cultural dos primeiros pastores da Assembleia de Deus no Brasil.

O sociólogo Paul Freston destaca o contexto cultural e religioso vivido pelos missionários em seu país natal, para explicar o temor que esses senhores possuíam em relação ao ensino teológico formal. Segundo esse autor a Igreja Luterana, que era também uma igreja estatal, ou seja, uma denominação controlada pelo Estado sueco, possuía um clero social e politicamente de alto status com uma teologia liberal, a qual se chocava frontalmente com os princípios clássicos de interpretação da Bíblia Sagrada e discriminava as minorias religiosas (os suecos em sua  maioria pertenciam à denominação batista, na qual muitos membros ou igrejas inteiras aderiram ao movimento pentecostal).

 Missionários suecos: resistência à erudição teológica 

Para os pioneiros suecos palavras como: seminário, instituto ou qualquer coisa semelhante a ensino teológico formal sugestionava, frieza, formalismo ou mundanismo espiritual. Esse era o ambiente de educação teológica vivido por eles em sua nação de origem. Como observou Freston os suecos:

Haviam experimentado um Estado unitário no qual uma cultura cosmopolita homogênea não permitia à dissidência religiosa a construção de uma base cultural capaz de resistir à influência metropolitana. Por isso, eram portadores de uma religião leiga e contracultural, resistentes à erudição teológica e modesta nas aspirações sociais. (FRESTON 1994: 78) Grifou-se

O contexto brasileiro também ajudou a reforçar os preconceitos dos suecos com relação ao ensino de teologia formal, pois os primeiros pastores das Assembleias de Deus no Brasil possuíam humildes origens rurais. Eram senhores limitados em seus horizontes culturais e sociais. Soma-se a isso ainda as primeiras perseguições movidas por parte do clero romano que tanto sofrimento causou aos primeiros crentes e obreiros. Os padres, bispos e demais oficiais católicos também possuíam (e ainda possuem) formação em seminários mantidos pela igreja católica, estudavam anos até obter permissão para celebrarem missas ou qualquer outro sacramento.

Ao contrário os crentes ao se converterem à fé pentecostal logo podiam pregar,   testemunhar e participar do ministério evangélico. A revelação do Espírito Santo e o desejo de comunicar a nova fé faziam-os sobrepujar os ministros católicos em experiências espirituais e em conhecimentos. Então expressões como seminários, teologia e institutos eram termos que indicavam certa erudição estéril, idólatra e apócrifa em oposição à fé pentecostal; mais frutífera, obediente e verdadeira para com Deus.

Para os suecos o modelo de educação teológica ideal era os das escolas bíblicas, de poucas semanas e sem diplomas. Esse modelo de ensino é o que prevalecia nas Assembleias de Deus no Brasil, e ainda hoje é muito utilizado para preparação e treinamento de obreiros na denominação. Algumas dessas reuniões de ensino são extremamente valorizadas nas igrejas e ministérios assembleianos regionais espalhados pelo país afora; com um detalhe: os alunos que completam o ciclo de matérias ministradas nesses encontros são diplomados pela organização do evento.

As primeiras propostas e a preocupação com a educação teológica formal de obreiros começaram a se intensificar com a chegada dos primeiros missionários norte - americanos ao país por volta dos anos 30. Missionários como J. P. Kolenda, Nels Lawrence Olson, Virgil Smith (todos com formação teológica em institutos bíblicos) entre outros, começaram a defender a criação dos institutos em terras brasileiras.

Esses obreiros com formação teológica nos EUA e visão diferenciada dos suecos nas questões de ensino eclesiástico, passaram a travar verdadeiros combates nas Convenções Gerais, tentando convencer os missionários suecos e a liderança brasileira da necessidade e urgência da criação de institutos bíblicos no Brasil.

Mas esse assunto fica para outra postagem...

Fontes:

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ____. Nem anjos nem demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.

Comentários

  1. A paz do Senhor Mano...
    é por isso que ainda hoje se vê com certas reserva o preparo teológico dos nossos obreiros, mais, graças a Deus, isto está mudando... e muitos deles estão sentindo a necessidade de um bom preparo teológico, sem esquecer a unção...
    IITm 2.15

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  2. Coloquei um link do seu blog lá no meu:http://reflexoes-no-caminho.blogspot.com

    Abraços!

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  3. A posição sentados com corpo reto dedos aberto nos joelhos. São malditos maçons.

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