A Assembleia de Deus e a educação teológica: uma difícil aceitação (2º parte)
Kolenda: incentivador do preparo teológico
Lawrence Olson foi mais além, e
propôs a criação de seminários e institutos bíblicos pelo país, mas foi
rechaçado pelo próprio Macalão, pois para o líder de Madureira seria
"perigoso" investir em educação formal, com possibilidades de o
obreiro cristão ficar somente no intelectualismo. Essa opinião de Paulo Macalão
seria sentida por Joanyr de Oliveira vinte anos mais tarde em Brasília, quando percebia,
que ao insistir na necessidade de institutos bíblicos era como "pregar no
deserto".
Percebe-se claramente nos relatos
convencionais, a plena consciência que os missionários tinham da necessidade de
maior preparação dos obreiros. Porém queriam uma solução intermediária, ou
seja, deveria o obreiro estar preparado para atender as carências da obra, mas
por outro lado queriam evitar o intelectualismo teológico. Para esses pioneiros
a prática, a experiência seria a grande escola teológica de um obreiro e não um
seminário qualquer.
Apesar de os missionários
americanos relutarem e enfatizarem suas experiências, citando suas próprias
formações como modelo, os convencionais preferiram o modelo de Escolas e
Semanas Bíblicas como forma de preparação teológica. Nesta convenção ainda foi
proposto por J. P. Kolenda os cursos bíblicos por correspondência, com uma
lista de livros predeterminada para leitura dos alunos.
Porém os missionários
norte-americanos não desistiram da idéia da preparação teológica de obreiros
através de seminários e institutos bíblicos. Na Convenção Geral de 1948 o tema
voltou a ser debatido com mais intensidade pelos os obreiros, com divergências
que perduraram por muitos anos dentro das Assembléias de Deus no Brasil.
Foi a partir de uma pergunta do
missionário sueco Leonard Pettersen que indagava sobre os meios de preparação
para obreiros, é que as discussões começaram. Fica evidente que no decorrer da
reunião que os argumentos contra a criação de institutos bíblicos foram cada
vez mais se avolumando. Expressões como permanecer no "colégio de
Jesus" para enfatizar a dependência que o obreiro somente deveria ter do
Espírito Santo em sua preparação, e a observação de que os institutos bíblicos
seriam uma "fábrica de pastores" foram já nessa época termos
consagrados para combater a educação teológica formal.
Na verdade todo o debate tinha
como alvo combater as intenções do missionário Kolenda, que defendia abertamente
a necessidade do ensino teológico formal e a criação de institutos bíblicos. Na
biografia de Kolenda temos a informação de que em uma viagem aos Estados Unidos,
ele havia conseguido uma generosa oferta de 20.000 dólares, a qual seria
destinada à compra de um prédio para início de um instituto bíblico para
obreiros.
Sabedores das intenções de
Kolenda, o qual além da proposta, já havia conseguido recursos materiais para
concretização de seus objetivos, os missionários suecos; e não só eles, mas
também os obreiros brasileiros resolveram contra-atacar e não permitir a
criação do instituto projetado por J. P. A divergência nesse assunto foi assim
comentada em sua biografia escrita por um sobrinho seu:
Tio João se encontrava na Convenção Geral das Assembléias
de Deus em Natal, Brasil. Infelizmente, ele era o único missionário
norte-americano presente. Naquela ocasião sentiu muito a falta do irmão
Lawrence Olson. Por outro lado, ali estavam nove missionários suecos. Tinham
ouvido dizer que esses dois homens procuravam começar no Brasil o treinamento
através de institutos bíblicos, e estavam resolvidos a impedir a aprovação
dessa obra (...) Tio João propôs na Convenção que institutos bíblicos fossem
iniciados, mas cada vez que se levantava e falava, havia nove discursos dos
seus irmãos suecos, manifestando-se contra a iniciativa proposta. (BRENDA 1984:
119)
Tanto Kolenda, como os outros
missionários norte-americanos tinham se comprometido a cooperar e a adotar os
princípios e métodos da obra existente. Essa foi à condição para a aceitação da
presença da missão americana nas Assembléias de Deus no Brasil, sendo assim, se
quisessem trabalhar filiados a denominação, deveriam seguir as orientações da
Convenção Geral.
Assim sendo, restou a Kolenda se
conformar com a decisão dos convencionais, e a oferta financeira acabou não
sendo enviada, adiando em alguns anos a implantação do sonhado instituto
bíblico no Brasil. Ainda segundo o relato de seu sobrinho, assim se manifestou
J. P. Kolenda sobre esses acontecimentos e sua experiência com os suecos:
"Esses preciosos homens de Deus", declarou
tio João, referindo-se aos missionários suecos, "que foram usados por Deus
de modo muito maravilhoso para fixar os alicerces das Assembléias de Deus no
Brasil e estabelecê-las, temiam que o treinamento em institutos bíblicos
levasse os obreiros brasileiros a dependerem do seu conhecimento e capacidade
intelectual, ao invés de confiarem unicamente na direção do Espírito Santo e na
Palavra de Deus". (BRENDA 1984: 119).
Kolenda reconhecia o valor do
pioneirismo sueco, mas percebeu que firmados em conceitos e experiências
próprias, os missionários suecos nunca aprovariam um instituto bíblico, mesmo
reconhecendo as grandes carências teológicas dos obreiros no Brasil.
Somente em 1959, quase dez anos depois é que um sobrinho de Kolenda,
o missionário João Kolenda Lemos e sua esposa a americana Ruth Dorris Lemos,
juntamente com alguns obreiros nacionais, fundaram o Ibad (Instituto Bíblico
das Assembléias de Deus), na cidade paulista de Pindamonhangaba, o qual, ironicamente apesar do
nome não recebeu apoio da cúpula
assembleiana. Em 1961, também a contragosto dos líderes assembleianos,
foi fundado o Instituto Bíblico Pentecostal (IBP) na cidade do Rio de Janeiro,
por iniciativa do norte-americano Lawrence Olson e do pastor Gilberto Malafaia.
Com dois institutos bíblicos em
atuação, a Convenção Geral, voltou a debater esse tema em 1966. O próprio João
Kolenda nessa convenção defendeu; como seu tio no passado, sobre a
importância dessas instituições para a igreja evangélica no Brasil.
Mais uma vez, as opiniões
contrárias em muito excederam os argumentos em favor de tais instituições. Mas
nesse momento histórico, já se percebe certo apoio de algumas lideranças brasileiras
(como no caso do pastor Alcebíades P. de Vasconcelos). Por já estarem em
funcionamento, e por prever uma discussão interminável, a Convenção Geral adiou
os debates para os próximos encontros.
Passados sete anos, na Convenção
Geral de 1973, com a criação do Conselho de Educação e Cultura, é que o Ibad
foi oficialmente reconhecido pelas Assembléias de Deus no Brasil. Dois anos
depois, em 1975 foi à vez de o IBP receber seu aval da liderança assembleiana.
Com o decorrer dos anos, muitos
outros institutos bíblicos de caráter regional foram fundados. Como não
conseguiram barrar a criação das escolas de ensino teológico formal, as
lideranças assembleianas passaram a formar em suas próprias igrejas esse novo
modelo de educação bíblica. A adesão, muito mais que reconhecimento da
necessidade de ministros realmente preparados, pode ter significado outra
percepção sobre os institutos pioneiros (Ibad / IBP), ou seja, evitar um
deslocamento geográfico de obreiros, e de que os seminários ditassem o futuro
da igreja.
Fontes
Fontes
ARAÚJO,
Isael de. Dicionário do
Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
BRENDA, Albert W. Ouvi um recado do céu: biografia de J. P. Kolenda. Rio de Janeiro: CPAD 1984.
DANIEL,
Silas. História da Convenção
Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
FRESTON, Paul. Breve História do
Pentecostalismo. In: ____. Nem anjos nem demônios; interpretações
sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.
VASCONCELOS, Alcebiades Pereira. Alcebiades Pereira Vasconcelos: estadista e embaixador da obra pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
Boa Reflexão amigo,
ResponderExcluirforte abraço!
Paz do Senhor!
ResponderExcluirMaravilhoso o conteúdo deste blog.
estou há horas lendo postagem por postagem.
Parabéns!
Obrigado pela visita. procuro, na medida do possível, divulgar informações que sejam relevantes e esclarecedoras para a história das Assembleias de Deus. Em breve, mais postagens e informações serão divulgadas.
ResponderExcluirUm grande abraço!